PSICOMOTRICIDADE E ALFABETIZAÇÃO
A psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de movimento
organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante
de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização (BARROCO, 2007, p.12). Sendo
assim, não há como dissociar a aprendizagem do movimento. Ressalta Fonseca (2004, p.43)
“[...] a origem da linguagem esteve associada à motricidade, especialmente à libertação e
utilização da mão e da face, de onde ocorre e emergência seqüencial de gestos e de mímicas
intencionais”.
A relação entre o processo de alfabetização e a psicomotricidade é muito
intensa a ponto de uma servir de base para a outra, aqui no caso, a psicomotricidade serve de
base para os primeiros aprendizados na alfabetização. “A medida em que vai descobrindo
essas intenções e com o auxílio do professor, no caso da escola, os ganhos serão muitos sob
todos os aspectos” (FURTADO, 2007, p.17) essa idéia vem ao encontro dos objetivos
propostos para um processo de alfabetização de melhor qualidade.
O pedagogo francês Seguin apud Holle (1979, p.74) escreveu que “Ninguém pode
ensinar uma criança a ler e escrever antes que seus órgãos sensoriais funcionem”.
O professor
das classes de alfabetização precisa conhecer e estar atento ao funcionamento dos órgãos
sensoriais no que se refere ao processo de ensinar e aprender na alfabetização. Vale ressaltar
que, além disso, a psicomotricidade na sua ação educativa ou terapêutica, pretende atingir a
organização neuropsicomotora da noção do corpo como unidade psicossomática de
fundamental importância para a aprendizagem (FONSECA, 2004, p.11).
Partindo das definições de psicomotricidade e seus aspectos constitutivos, ao abordar
o tema da alfabetização, não podemos deixar de propor destaque às concepções de
aprendizagem que embasam todo o processo.
Segundo Ferreiro (1991, p.25-27) é fundamental
compreender como a criança chega à aquisição e ao domínio da leitura e escrita, é importante
compreender-se como se dá a aprendizagem. Entre algumas concepções descritas por alguns
estudiosos da área, existem duas concepções a partir de diferentes visões acerca do educando
que queremos dar destaque. A visão tradicional onde educando é agente passivo, isto é, ele
apenas recebe e acumula informações previamente estabelecidas pelo educador, que se
considera o detentor do saber o qual espera que seu educando seja apenas capaz de codificar
e decodificar. Outra visão é a sócio interacionista que se contrapõe a esta percebendo o
educando como um agente ativo, que por esta razão constrói o seu próprio conhecimento, a
partir da exploração do mundo que o cerca.
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A participação da psicomotricidade está vinculada exatamente com o processo de
ensino/aprendizagem desta segunda visão, onde a criança pode entre outras atividades correr,
pular, rolar, abraçar, ou seja, vivenciar situações que a estimule de forma plena. Dentro de
cada movimento realizado pela criança um aprendizado significativo se consolida dando
suporte para a lecto-escrita. Para Ferreiro (1991, p. 26) essas condições são realmente
importantes, mas não devem ser consideradas de maneira isolada ou como garantia da
aquisição da leitura e da escrita. Ressaltamos mais uma vez que ao iniciar o processo de
alfabetização devemos ter em mente um trabalho cujo ser aprendente é sujeito “ativo disposto
a descobrir o mundo que o rodeia por meio de suas próprias ações (ibid).
Muitos enfatizam que o treinamento de habilidades perceptomotoras tornam a criança
apta para a alfabetização, isso em certa parcela é real, em outra não.
O fato de alguns
professores pedirem que seus alunos realizem inúmeras atividades com pontilhados, cópia de
curvas e retas não indica que se está trabalhando a psicomotricidade, nem tão pouco que
auxiliarão as crianças em seus aprendizados. Esses “treinos” são cansativos, enfadonhos e
contemplam apenas aspectos motores, apenas uma habilidade, deixando de lado o que a
psicomotricidade se propõe a trabalhar que é todo do indivíduo.
Assim, como destaca Weiz apud Volanin (1999, p.3) “ Ancorados na idéia de que ler é
apenas uma habilidade, tentamos navegar nas águas do treinamento e naufragamos nos
índices de repetência”. Cada vez mais, as pesquisas realizadas em torno da alfabetização
corroboram a idéia das educadoras, pois apontam o quanto vem aumentando os problemas na
educação no que compete ao processo de alfabetização.
A criança na fase de alfabetização é toda movimento. Negrine (1986, p.17), afirma
esta idéia enfatizando que grande parte dos estudos “[...] têm demonstrado a existência de
estrita relação entre a capacidade de aprendizagem escolar da criança e sua possibilidade de
desempenho neuromuscular. Este desenvolvimento neuromuscular é adquirido através da
experiência em atividades físicas”. O que para as crianças se caracteriza como brincadeiras de
correr, chutar, pular, pegar e arremessar são consideradas pela área da psicomotricidade como
movimentos neuromusculares que servirão de base para que a criança aprenda segurar o lápis,
folhar o caderno, definir sua lateralidade, delimitar espaços, diferenciar as formas das letras,
etc.
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Portanto, a tomada de consciência pela criança do seu corpo, compreendendo tanto o
esquema corporal quanto o conceito corporal, dará a ela condições de situar-se no espaço,
controlar o tempo e desenvolver habilidades e coordenação de gestos e movimentos.
Disponível em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2087_1628.pdf. Acesso em: 24/06/2015.
Imagem disponível em: http://gentequeeduca.org.br/grupo/psicomotricidade-na-educacao-infantil-pratica-educativa-e-preventiva-para-o-sucesso-escolar. Acesso em: 24/06/2015.
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