APRENDER COM ALEGRIA
“ Educar é principalmente atender às necessidades de desenvolvimento da
criança, a fim de propiciar a plena realização da sua personalidade”.
A escola eficaz será aquela que, além das disciplinas e conteúdos
ministrados, atinja suas potencialidades ao desenvolver no aluno, como prioridade sobre as
demais atitudes, e como base para elas, a seguinte tríade: o gosto pela leitura, pelo
raciocínio e pelo movimento. Creio que daí, outros gostos, interesses e conhecimentos
poderão surgir, com conseqüente evolução. Ora, quem lê espontaneamente perpassa por
muitos vieses da história, da geografia, da antropologia, das ciências, da sociologia e da
filosofia, além de conviver naturalmente, mesmo com a possibilidade de conflitos, com as
palavras e com os pensamentos dos autores. Assim também, quem habitualmente faz
exercícios de raciocínio, provavelmente desenvolverá melhor capacidade de compreensão
das incógnitas da vida, creio. E ainda, aquele que aprende a gostar e conhecer o seu próprio
corpo, talvez tenha maior facilidade de colocar-se no mundo e no ambiente em que vive.
“Verificar quais as relações existentes entre o lazer, a escola e o processo educativo, e de que forma essas possíveis relações podem ser consideradas tendo em vista a formulação de uma alternativa pedagógica – a pedagogia da animação”.
Gosto pela leitura poderá ser adquirido através de exercícios que estimulem o hábito
de ler, como por exemplo, brincadeiras de formação de sílabas e de palavras, a construção
de pequenos textos que podem estender-se à comunicação dos alunos por cartas, a leitura
de livros menores, de fácil compreensão e de encadernação que não limite seu uso, com a
seqüência de redação de pequeno texto sobre a livre compreensão do que foi lido, a adoção
da “roda de debates” em sala de aula, de modo que desde cedo os alunos se acostumem a
discutir o que entenderam dessa ou daquela leitura ou informação, e exercitem a exposição
das suas idéias e a sua exposição às críticas e ao conflito de idéias. Tudo isso estimulando a
leitura que pela sua abrangência e espontaneidade, parece-me ser mais fecunda que o
estudo, normalmente determinado e feito em função de alguma cobrança avaliativa
efêmera.
O gosto pelo raciocínio, agregado aos conhecimentos matemáticos e outros que
possam despertá-lo, poderá ser feito através de exercícios que estimulem o ato de pensar, de
deduzir, de construir idéias e coisas. Há brincadeiras que se fazem em sala de aula, com
números ou com operações matemáticas, além da construção de objetos que além da
criatividade, exigem raciocínio, ou ainda, as “perguntas” cujas respostas dependem de
“esquentar a cabeça”, e preferencialmente deverão ser respondidas sem o uso do lápis ou da
calculadora, como por exemplo: “quando Pedro tinha 13 anos, seu pai tinha o triplo da sua
idade. Hoje Pedro tem 27 anos. Quantos anos tem seu pai ? Assim, contrariamente ao que
ocorre com certa freqüência em muitas escolas, o “pensar” passa a ser mecanismo inerente
ao estudo e às conclusões, mesmo que temporárias.
Finalmente, o gosto pelo movimento, através de exercícios que estimulem a
descoberta e o culto do próprio corpo, suas funções, suas capacidades e suas limitações;
atividades físicas que podem ir desde os movimentos reflexivos, perpassando pela
descoberta das várias habilidades motoras, até a possível participação ou adesão a
atividades especializadas, como as esportivas, mas priorizando a brincadeiras e os
exercícios recreativos e os jogos sem a excessiva seriedade das regras. Assim, as aulas de
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Educação Física poderiam deixar de ser meras sessões de esforço (ou sofrimento)
físico ou de treinamento esportivo (muitas vezes inadequado) e passariam a ser, pelo
movimento, um estudo do corpo, suas funções, capacidades e habilidades.
“...a essência do
espírito lúdico é ousar, correr riscos, suportar a incerteza e a tensão”.
Um professorar com alegria: A cultura da alegria
No meio de um currículo investigado, embora tudo esteja planejado,
organizado e a “rotina diária” do currículo seja inclusive enumerada e escrita
no quadro para que todos possam acompanhar as “tarefas” de cada dia, vemos
a simples “leitura de uma história de um maestro” fazer tudo se desorganizar
por vários dias no território de um currículo. Vemos um currículo seguir outro
rumo e escapar ao já pensado. Para isso, no entanto, os habitantes do território
curricular precisam aceitar deixar o mapa, e arriscar uma viagem sem percurso
definido, sem ponto de chegada. Vemos, então, em um currículo que, de fato,
“um indivíduo adquire um verdadeiro nome próprio ao cabo do mais severo
exercício de despersonalização, quando se abre às multiplicidades que o atravessam
de ponta a ponta, às intensidades que o percorrem”. Metarmofoseados,
uma professora e seus alunos, abrem-se às multiplicidades que os atravessam,
e vivem, em um currículo, as mais simples e tocantes intensidades, experimentações
e experiências: a alegria da expectativa de entrevistar um maestro;
a emoção com a história de um maestro morrer com uma inflamação no pé
provocada por uma batuta; a ansiedade de conhecer, ver, ouvir e sentir uma
orquestra; o humor de conseguir imaginar ritmos e dançar com a imaginação;
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600 Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, maio/ago. 2010
Marlucy Alves Paraíso
o prazer de aprender sobre diferentes instrumentos musicais; a potência provocada
por músicas de diferentes tipos. Sem falar do formigamento produzido
em todos quando se aventuram a aprender sobre as pinturas (desde aquelas
dos azulejos de um banheiro, passando por pinturas de tecidos e roupas, até
aquelas pinturas feitas pelos chamados “grandes pintores”). Nesses momentos,
os habitantes do território curricular estão “despersonalizados” porque se tornam
matilhas e povoam espaços escolares corriqueiros à espreita de sensações
desconhecidas. Naquele momento, em que falam por afectos, existem menos
diferenças entre a professora e as crianças do que entre a professora e as outras
professoras. As ligações e conecções feitas entre professora e crianças fazem
a rotina do currículo e o currículo-rotina dançarem.
Se queremos alegria no ensino e na aprendizagem, é preciso:
a. Se o sistema educacional brasileiro não satisfaz nossas expectativas, alguma mudança pode e deve se implementada.
b. Se a escola, via de regra, não é atraente pelos seus conteúdos e os resultados não são satisfatórios, o processo didático deve ser revisto.
c. Se as atividades lúdicas podem ser utilizadas como meio auxiliar da aprendizagem, e principalmente da “conquista” do aluno, por que não adotá-las ?
d. Se as atividades lúdica e as recreacionais podem oferecer vantagens e não apresentam indícios de comprometimento, por que não tê-las sistematicamente na escola ?
e. Se a interdisciplinaridade é tão propalada e pouco utilizada, por que não a implementarmos e inserirmos a Educação Física como oferta de proposta de mudança ?
Disponível em: https://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/2006/KSGUNWFXUBAJ.pdf; http://www.scielo.br/pdf/cp/v40n140/a1440140.pdf. Acesso em: 16/06/2015.
Imagem disponível em: http://turminhadaysa.blogspot.com.br/. Acesso em: 16/06/2015.
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