domingo, 27 de setembro de 2020

 

BULLYING NA ESCOLA: QUEM SOU EU? QUEM É O 

OUTRO? ONDE ESTÁ A DIFERENÇA?




O bullying não acontece apenas na escola, mas é nela, sem dúvida, que essa prática mais acontece. Uma pesquisa realizada no colégio Presidente Geisel, em 2019, mostra que 56% das ações de bullying acontecem na escola. Outro dado encontrado é que, na maioria das vezes, o bullying é praticado na forma de violência verbal, o que faz com que ele seja ignorado e naturalizado no espaço da escola. Muitas vezes, os/as professores/as e gestores/as escolares nem ficam sabendo das humilhações, piadas de mal gosto, apelidos e preconceitos divulgados ali. A vergonha e o medo de sofrer novas agressões faz com que muitos/as alunos/as, mesmo sofrendo, não procurem os/as adultos/as para solucionar os conflitos. Essa invisibilidade faz com que as situações de bullying caiam no anonimato, mesmo não parando de ser praticadas. Mas por que o bullying acontece? Um dos motivos para que ele aconteça tem a ver com a ideia que temos de nós mesmos e também a ideia que construímos sobre o outro. Em geral, os agressores ou praticantes do bullying acreditam numa suposta superioridade em relação à vítima. Muitas vezes, se supõe que alguma característica física, comportamental, de pertencimento a uma raça, classe ou orientação sexual justificariam tais agressões. Por trás disso, está a noção de existiria uma hierarquização da qualidade humana, que supõe que negros/as são inferiores/as aos/às brancos/as, que os/as pobres são inferiores aos/às ricos, que os/as homossexuais são inferiores aos/às heterossexuais. Tais discursos circulam na sociedade e também no ambiente escolar, de modo a produzir crenças limitantes sobre o outro. Mas quem sou eu? Por que me comporto assim diante do outro? Por que preciso inferiorizá-lo? Muitas vezes, quem tem a necessidade de agredir o outro não se julga superior a esse outro, mas sofre de uma profunda baixa autoestima, que faz com que ele/a tenha que evidenciar as fraquezas e supostos defeitos do outro, como se isso me fizesse maior do que ele/a. Ou seja, surge a necessidade de diminuir o outro, para que eu me sinta exaltado. O que muitas vezes se esquece é que eu também tenho defeitos e fraquezas. Ao praticar o bullying, isto parece ficar esquecido. E quem é o outro? Quem é esse outro que é alvo das minhas provocações e atos violentos? É alguém que é diferente de mim, sem dúvida. Contudo, o que raramente percebemos é que todos somos diferentes entre si. Não adianta ressaltar a diferença apenas de alguns e tentar imaginar que existe uma pessoa ou grupo de pessoas marcadas como diferentes. A diferença ou diversidade humana é um imperativo e exige que saibamos que, mesmo dentro de um grupo supostamente homogêneo, não há como afirmar uma suposta igualdade. Não é porque sou branco/a que sou igual aos meus colegas também brancos. Não é porque sou de classe popular que tenho as mesmas experiências e história de vida que outros/as colegas de classe popular. Não é porque sou brasileiro/a que sou igual a todos/as os/as brasileiros. Não é porque sou heterossexual que tenho os mesmos desejos que as outras pessoas heterossexuais. Onde está, então, a diferença? A diferença está no universo – não há uma estrela igual à outra, uma cor igual à outra, uma flor igual à outra, um animal igual ao outro, um ser humano igual ao outro... A diferença está em todo lugar! Negar-se a percebê-la é uma forma de ignorância. Ignorância que leva à violência. Violência essa que se faz intolerável, inadmissível. Assim, é preciso tolerar e compreender o outro, mas antes é preciso fazer um exame de consciência e perceber quem nós somos. Não há como criticar ou excluir o outro sem pensar que também podemos ser criticados e excluídos. Somos seres relacionais e tudo o que somos depende do modo como nos nomeamos a partir da visão do outro. Não há como violentar e não ser violentado. Não há como fazer sofrer e estar isento do sofrimento. Não há como conviver uns com os outros sem percebermos as nossas fragilidades. Somente assim seremos capazes de realmente respeitar o outro, nos colocarmos no lugar dele e não mais desejar provocar o sofrimento desse outro. Quem agride hoje, pode ser agredido amanhã. Uma cultura de paz na escola se constrói, portanto, em relações que se pautam pelo respeito!

 

Gabriela Meireles


Imagem disponível em: https://blog.portabilis.com.br/bullying/. Acesso em: 27 set.2020.