segunda-feira, 15 de junho de 2015

O QUE PENSAM AS CRIANÇAS?


Freqüentemente nos dirigimos às crianças e exigimos que eles tenham atitudes de adulto. Não são raros os momentos que chamamos sua atenção dizendo coisas do tipo: “Pensa direito menino!”, ou “Presta atenção no que faz, parece que você está no mundo da lua!”.

Quando não fazemos isto, acabamos aceitando todo tipo comportamento que possam ter, com a desculpa que ainda são crianças, e que, portanto não é o momento de exigirmos deles atitudes maduras.

Uma terceira possibilidade tão danosa quanto as duas anteriores acontece quando dizemos: “Não faça isto”, ou ainda “Não fale isto, que é feio”, sem darmos as justificativas pertinentes.

Em todas as alternativas acima, privamos as crianças do que é mais caro aos adultos: O PENSAR.

O problema não reside em dizermos às crianças o que elas devem ou não fazer, mas em como fazemos para que elas entendam o que pode ser feito ou não, isto significa que temos que dar a elas a chance de construir suas hipóteses sobre as coisas. Assim, antes de dizermos: “Não faça isto”, devemos fazer com que ela justifique porque está fazendo aquilo, e o que significa para ela agir de determinada maneira. Nossa preocupação deve estar voltada, portanto, não exclusivamente para algo que a criança faça ou fale, mas antes para as motivações que ela julga imperiosas e para as justificativas que consegue elaborar.

Esta mudança de perspectiva obriga a nós, adultos, deixarmos de nos preocupar tanto com o que as crianças fazem, nos fixando mais nos procedimentos e nas construções mentais que elas elaboram para chegar ao que externalizam. Ou seja, é mais importante o que provoca certas atitudes e não a própria atitude em si.

Isto obriga os educadores (porque é cada vez mais raro encontrar pais preocupados em fomentar nos filhos um sólido processo reflexivo) a garantirem duas coisas fundamentais na educação infantil: primeiro, que as crianças possam refletir sobre sua ação, buscando dar significado e sentido a ela, preenchendo de conteúdos as atitudes que tem, que muitas vezes parecem não fazer muito sentido para ela, porque não conseguem pensar por si mesmas sobre tudo. Trocando em miúdos: decidir menos por elas, e acreditar que elas podem encarar certos desafios típicos de sua idade, e aprender com eles, sem que alguém precise decidir por elas.

Segundo, que as atitudes delas deixem de ter caráter meramente repetitivo, deixando de ser meras cópias do que fazem os dos adultos, passando a obedecer a um caráter auto-reflexivo, amparado nos conceitos que consiga formular. Ou melhor: nada mais aterrorizante que pais que ficam obrigando os filhos pequenos jogarem futebol e serem “machos”, as filhinhas ficarem rebolando na frente das visitas (humilhando a criança, constrangendo os amigos que se vêem obrigados a dizer: Que lindo! E expondo a pobreza de espírito dos pais).

A criança quando é freqüentemente solicitada a justificar seu comportamento, acaba percebendo que não podemos agir e dizer coisas sem sentido.
Isto não significa que a criança deve ser repreendida e acossada por conta de todo tipo de enganos que cometa, mas sim que devemos garantir que elas consigam aprendam com seus erros dentro de um processo sadio, fraterno, equilibrado e paciente; promovendo a auto-estima, o desejo de enfrentar e superar, ao invés de um espírito acuado e acovardado e culpado. A aprendizagem não significa o castigo (como sugerem as religiões cristãs), nem a permissividade, mas sim a busca do entendimento das armadilhas e enganos, das implicações, das alternativas e das conseqüências daquilo que elas fazem. 

O nosso sistema educacional, e grande parte dos nossos professores, por acreditar que o pensar nas crianças não é consistente, e, portanto o que elas dizem não deve ser levado à sério, preferem ensinar tudo, como se elas não tivessem ao longo de suas vidas elaborado suas hipóteses sobre as coisas que já vivenciaram.

Os professores preferem ensinar, por exemplo, “A lei da gravidade”, aos seus alunos, e não resgatar deles suas explicações e sensações. Ensinamos, portanto conceitos acabados, histórias mortas, fórmulas áridas, coisas desinteressantes às crianças e com certeza aos adultos também.

Mas se a escola se parece mais com matadouro do que com a vitrine para o mundo, ela não faz isto porque maldosamente nos deseja com a consciência lesada, faz sim porque nós somos e preferimos ser assim. Percebam não afirmei: porque somos assim, pois isto tem caráter fatalista, disse por que PREFERIMOS SER ASSIM, fazemos a opção por não pensar, e achamos que as pessoas que nos cercam e as crianças incomodam menos quando não perguntam.

Os pais preferem ver seus filhos crescerem na frente da televisão, sem qualquer critério e sabor pela vida, os professores preferem ocupar-se dos conteúdos do ensino. O problema não está na TV (coisa do demônio, segundo os estúpidos, tal qual foi a luneta, a vacina) nem nos conteúdos, mas na maneira como pais e educadores se comportamos diante dela. Ela é fonte importante de informações, mas informação sem reflexão não faz sentido, só esclarece e doutrina.

Nossas crianças não merecem continuar a serem adestradas.

Educar implica em aprender e fazer, em fazer e pensar, em compreender e justificar, em dizer e construir, em buscar e discordar, em criar e destruir. Mas como ninguém consegue ensinar o que não aprendeu, o caminho ainda parece longo.

German Doin não passou no teste de admissão da Faculdade de Cinema. Graças a isso, pode fazer o documentário "A Educação Proibida", exibido ontem na Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. O próprio argentino, diretor do filme, participou de uma conversa  depois do filme.
— Temos agora um projeto de criar uma rede de educadores na internet para trocar experiências e relatar projetos transformadores, revolucionários de educação — explica German.
No auditório do CIC, onde foi realizado o evento, a plateia era formada por professores e pesquisadores da área de pedagogia, além de cineastas e público em geral. Vindos tanto da UFSC e USP (de São Paulo) quanto da rede municipal de ensino, os presentes queriam apresentar atividades de ensino inovadoras a German e estavam curiosos sobre possíveis sequências do filme.
O diretor afirmou que gostaria muito de ouvir, numa nova etapa, as crianças e o que significou para elas as experiências que viveram na escola.
— Se a educação era diferente em outros lugares sempre foi uma curiosidade para mim. Por estar saindo da escola quando fiz esse filme, com 24 anos, acredito que busquei depoimentos com autoridades, com quem me dissesse "assim dá certo, assim não dá", mas agora eu gostaria de ouvir das crianças o que elas pensam.
O debate sobre educação na Mostra de Cinema Infantil continua hoje com a exibição do documentário brasileiro Sementes do Nosso Quintal, a partir das 13h30min, que será seguido de um bate-papo com a diretora do longa, diretora Fernanda Heinz. Segue abaixo alguns dos longas-metragem exibidos na Mostra:
As férias do Pequeno Nicolau
De Laurent Tirard, ficção, França, 2014, 97’. Termina o ano letivo. Nicolau (Mathéo Boisselier), seus pais e a avó... Leia mais
as_aventuras_do_aviao_vermelho_still_03
De Frederico Pinto e José Maia, animação, Brasil, 2015, 90’. Fernandinho acabou de perder a mãe, e seu pai... Leia mais
17. O Segredo dos Diamantes_Dira Paes Matheus Abreu e Nivaldo Pedrosa_foto Bianca Aun
De Helvécio Ratton, ficção, Brasil, 2015, 86’. Ângelo, garoto de 14 anos, busca um tesouro de diamantes para salvar... Leia mais
kirikou_os_homens_e_as_mulheres_still_02
De Michel Ocelot, animação, França, 2015, HD, 88’. O Homem Sábio da Montanha Proibida conta histórias do heroico Kiriku,... Leia mais
o_homem_da_lua_still_03
De Stephan Schesch, animação, França/Irlanda/Alemanha, 2015, HD, 95’. O Homem da Lua vive sozinho neste grande satélite. Um dia,... Leia mais
Belle & Sebastien
De Nicolas Vanier, ficção, França, 2015, HD, 104’. Durante a Segunda Guerra Mundial, nos Alpes, o solitário garoto Sébastien... Leia mais

Disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=949; http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/variedades/noticia/2013/07/gostaria-de-ouvir-o-que-as-criancas-pensam-sobre-a-escola-diz-cineasta-na-mostra-de-cinema-de-florianopolis-4193572.html; http://www.mostradecinemainfantil.com.br/. Acesso em: 15/06/2015.

Imagem disponível em: http://www.uesb.br/ascom/ver_noticia_.asp?id=3966. Acesso em: 15/06/2015.

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