COMO SURGIU O ALFABETO?
O alfabeto é uma forma de registrar uma língua cujos caracteres (as letras) procuram corresponder a um respectivo fonema. Mas essa correspondência não é perfeita. Em português, por exemplo, temos letras que podem representar fonemas diferentes, como a letra "x" (exemplo, enxame, próximo); letras que representam mais de um fonema ao mesmo tempo: novamente o "x" (táxi - "táksi"); fonemas que são representados por várias letras: rosa ("z"), zebra ("z"), exame ("z"); isso sem falar dos dígrafos.
A escrita alfabética se opõe a outras formas de escrita, como a ideográfica (saiba mais no quadro Outras formas de escrita), usada em vários países do extremo oriente, e a outras formas menos comuns. Ademais, existem outros alfabetos além do alfabeto latino como, por exemplo, o alfabeto grego e o cirílico latino como, por exemplo, o alfabeto grego e o cirílico.
A história de nosso alfabeto remonta à metade do segundo milênio antes de Cristo e a um povo de origem semita, os fenícios. Esse povo se caracterizava por uma cultura comercial marítima muito forte e chegou a formar colônias por todo Mediterrâneo, inclusive na península Ibérica, o ponto mais ocidental da Europa. Com o objetivo de facilitar a comunicação e, consequentemente, o comércio, surgiram, na cidade fenícia de Biblos, as primeiras manifestações escritas que acabariam por formar o alfabeto fenício, que se espalhou Mediterrâneo afora. A língua fenícia era representada por 22 sinais gráficos - apenas consoantes, já que a língua era de origem semita e, portanto, as vogais eram inferidas pelo contexto. Seria como se escrevêssemos "Brsl" no lugar de "Brasil".
Com a divulgação desse alfabeto, os gregos se apropriaram dele e o adaptaram para sua língua. Tal processo foi lento. Acredita-se que, no final do século V a.C., a cidade de Atenas, grande centro cultural da civilização grega, oficializou a adoção da escrita alfabética. A grande mudança que os gregos fizeram foi a inserção das vogais. Para isso, eles excluíram alguns caracteres usados para sons guturais (produzidos no fundo da garganta), que não existiam na língua grega, e aproveitaram para representar os fonemas vocálicos. De igual modo, os gregos criaram símbolos para representarem os fonemas aspirados que não existiam na língua dos fenícios. Com isso, chegamos ao alfabeto grego tal o conhecemos ainda hoje - a única diferença de lá para cá é a pronúncia de algumas letras.
No início, a escrita era feita através de desenhos: uma imagem estilizada de um objeto significava o próprio objeto. O resultado era uma escrita complexa (havia pelo menos 2.000 sinais) e seu uso era bastante complicado. Assim, os sinais tornaram-se gradativamente mais abstratos, tornando o processo de escrever mais objetivo. Finalmente, o sistema pictográfico evoluiu para uma forma escrita totalmente abstrata, composta de uma série de marcas na forma de cunhas e com um número muito menor de caracteres. Esta forma de escrita ficou conhecida como cuneiforme (do grego, em forma de cunha) e era escrita em tabletes de argila molhada, usando-se uma espécie de caneta de madeira com a ponta na forma de cunha. Quando os tabletes endureciam, forneciam um meio quase indestrutível de armazenamento de informações.
Os Pictogramas eram difíceis de aprender e embora o método cuneiforme fosse muito mais fácil, a escrita àquela época era principalmente uma “reserva exclusiva” de escribas profissionais. Com o objetivo de determinar a posse de algo, quase sempre um selo era usado. Os selos primitivos constavam simplesmente de um desenho pessoal referente ao proprietário. Mais tarde, uma inscrição por escrito, seria também incluída.
A escrita cuneiforme teve muito sucesso. Milhares de tabletes de argila foram desenterrados contendo registros de transações comerciais e impostos de cidades da Mesopotâmia, e a escrita cuneiforme foi usada para escrever a língua sumeriana. A escrita cuneiforme também foi usada para a forma escrita das línguas da Assíria e Babilônia, línguas bastante diferentes da sumeriana. Embora a escrita cuneiforme fosse muito menos adaptada à estas línguas, a escrita foi amplamente usada no Oriente Médio, numa vasta gama de documentos, desde registros comerciais até cartas de reis. O sucesso da escrita cuneiforme foi parcialmente devido ao fato de que suas matrizes em forma de cunha eram bastante adequadas para o meio em que se escrevia - o tablete de argila.
Os caracteres cuneiformes funcionaram de várias maneiras. Alguns derivavam de pictogramas e representavam objetos particulares, ou algo associado a um objeto. Outros eram usados para representar sílabas - desta forma, um signo poderia representar um objeto, ou outro objeto com um nome que soasse igual na língua sumeriana, ou uma sílaba com um som semelhante em outra palavra.
Os hieróglifos egípcios formavam um outro tipo de escrita bastante competente, que usavam sinais pictográficos, porém adaptados para diferentes objetivos. Este sistema foi usado por cerca de três mil anos pelos egípcios. Durante todo este tempo reteve sua forma pictórica: o hieróglifo para a palavra "olho", por exemplo, era o desenho de um olho; para "choro" era um olho acrescido de linhas representando as lágrimas. Tais símbolos podiam também ser usados para representar sílabas do mesmo som. Além disso, havia 24 sinais representando consoantes únicas, com as quais as palavras poderiam ser compostas, caso fosse necessário.
Os hieróglifos eram bem adaptados à arte de entalhe das letras (a palavra hieróglifo significa "gravação sagrada"), e eram amplamente usados para gravações em documentos e em paredes de túmulos. Mas eram difíceis de serem escritos rapidamente e os escribas egípcios desenvolveram outro estilo, mais ágil, utilizando-se um tipo de caneta sobre o papiro. Esta escrita era uma versão mais estilizada dos hieróglifos e era conhecida como "hierática". Onde era necessário uma escrita mais rápida, por exemplo, nas esferas da administração, registros de contas, a escrita hierática, ou a que derivou mais tarde, a demótica, eram as usadas.
É interessante notar que, com seus 24 sinais consonantais, os egípcios estabeleceram a base de um alfabeto perfeitamente funcional. Todavia, não evoluíram para um sistema totalmente alfabético de escrita. A origem dos alfabetos ocidentais não está nos hieróglifos, mas nas escritas semíticas dos povos da região oriental do Mediterrâneo. Um dos povos de destaque da região, nesse aspecto, foram os fenícios, que viveram ao longo da costa da Síria e do Líbano. Ali, os fenícios constituíram um extenso império de navegação, comércio e construíram portos em volta de todo o Mediterrâneo.
Eles utilizavam uma escrita composta de consoantes, portanto, não era um alfabeto verdadeiro. Pelo fato de serem excelentes comerciantes, os fenícios deixaram suas inscrições por toda a área, em Chipre, Sardenha, Malta, Sicília, Espanha, em Marselha, na costa setentrional da África e na Grécia.
Os gregos usavam muitas formas diferentes de escrita para registrar sua língua e entre estas a escrita cipriota e a linear B, sendo que esta última foi encontrada nos palácios da civilização Minoica, em Creta. Ambas eram escritas silábicas (isto é, os sinais representavam sílabas inteiras em vez de letras individuais), mas nenhuma consistente o suficiente como a língua grega. E nem a língua fenícia, já que as vogais são de suma importância no grego e os fenícios não possuíam uma forma de escrevê-las. Mas os gregos aprenderam a adaptar a escrita, usando os sinais consonantais, que eram pouco usados na sua própria língua para representar as vogais. Este foi um passo de importância capital; quando encontraram uma forma de representar as vogais, os gregos descobriram uma maneira eficiente de escrever sua língua - um alfabeto havia, então, sido criado (a palavra deriva de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego).
O alfabeto usado pelos gregos não permaneceu estático; eles o modificaram para incorporar outros sons. Os gregos também mudaram a direção em que o alfabeto era escrito. No início, como os ancestrais semitas, era escrito da direita para a esquerda. Depois, houve um período em que a escrita era da direita para a esquerda e da esquerda para direita em linhas alternadas (este método é chamado de 'boustrophedon', uma palavra grega que significa ' da maneira como o boi ara o campo'). Finalmente, ficou estabelecido que a escrita deveria ser da esquerda para a direita.
A escrita também mudou de outras maneiras. Materiais diferentes de escrita exigiam abordagens diferenciadas. Por exemplo, muitos exemplos primitivos do Grego eram esculpidos em pedra. Esta abordagem era ajudada pelo fato de existir uma escrita amplamente composta de linhas retas. Para escrever sobre o papiro (ou mais tarde sobre os pergaminhos) foi desenvolvido um estilo mais floreado e arredondado.
O alfabeto romano difundido em tantos lugares originou-se no grego. As letras romanas eram bastante semelhantes às gregas, embora alguns ângulos agudos de certas letras gregas tivessem sido arredondados no alfabeto romano (por exemplo, R tornou-se S). Além disso, algumas das letras gregas foram retiradas do alfabeto romano - o latim não tinha sons como o 'th' ou 'ph'. No entanto, em geral, o alfabeto romano do século VII a.C. ainda é o alfabeto usado nos países ocidentais nos dias de hoje.
Árabe
Muitas das formas escritas primitivas, como a cuneiforme e a fenícia, surgiram e prosperaram devido ao comércio. A escrita permitia que os mercadores mantivessem o registro de suas transações e que os governos anotassem os bens das pessoas ou os impostos que deviam. Um subproduto interessante e frequente foi o surgimento de uma nova cultura literária. Os primeiros poemas épicos da Mesopotâmia e a profícua literatura da Grécia Antiga têm uma dívida com os comerciantes fenícios e sumerianos, que foram os “desenvolvedores” dos primórdios da escrita.
Os negócios comerciais não foram nem de longe a única influência sobre a escrita. No mundo islâmico, por exemplo, o repentino surgimento de uma nova religião do Islã estimulou o desenvolvimento e a difusão da escrita árabe. Esta escrita evoluiu, provavelmente durante os séculos IV e V, a partir das escritas do povo nabateu, que habitava as cercanias do monte Sinai. Baseia-se nos sinais originais das línguas semitas, com o acréscimo de outros sinais para diferenciar as sutilezas da pronúncia.
A fé islâmica foi fundada no século VII. O texto do Corão foi ditado por Deus ao profeta Maomé e teve que ser copiado pelos seguidores da sua fé. Estas palavras obviamente têm uma importância capital para os fiéis e devem ser descritas com perfeição e reverência. Consequentemente, a capacidade de escrever e a arte da caligrafia eram, e ainda são, altamente consideradas no mundo islâmico. O fato de que a representação de formas vivas seja proibida na arte islâmica fez com que a caligrafia se tornasse ainda mais importante. Além disso, a escrita tornou-se vital como uma forma de registrar os ensinamentos islâmicos e as descobertas científicas.
Assim como a região do Mediterrâneo oriental foi uma área crítica para o desenvolvimento da escrita, tanto no Oriente Médio como no Ocidente, houve outro tipo de escrita que mostrou ser bastante influente na Ásia oriental - o chinês. Neste caso o desenvolvimento foi bem diferente. Enquanto no Ocidente a tendência foi pela redução do número de sinais, dando origem ao alfabeto, na China ocorreu o contrário. A escrita permaneceu não alfabética e tornou-se mais complexa, não menos. Além disso, a escrita chinesa alterou-se muito pouco na sua essência, desde que foi inicialmente desenvolvida - não passou por uma radical transformação como aconteceu com frequência no Ocidente.
Os sinais chineses representam conceitos e fazem isso de inúmeras formas. Por exemplo, alguns dos sinais são figuras estilizadas de objetos, alguns são combinações desses sinais para indicar maior complexidade de ideias abstratas, alguns são combinações junto com sinais adicionais para indicar um som.
Como fica claro a partir disto, o número de diferentes sinais necessários é bastante vasto - no período Shang (1766-1122 A.C), havia cerca de 2.500; hoje em dia há aproximadamente 50 mil. Isto torna a escrita muito difícil de ser apreendida. No entanto, apresenta uma vantagem significativa, que foi útil na China, principalmente: a escrita pode ser lida independentemente da língua falada. Na China, um país imenso e com uma população falando diferentes dialetos, mas governada por um poder central, este recurso mostrou-se de grande valia. Ademais, significou que a escrita poderia ser adotada em outros países e à medida que a influência chinesa se espalhou, também se espalhou a sua forma de escrever.
Um país que sentiu muito cedo a influência da China foi a Coreia. O imperador chinês Wu Di conquistou a Coreia no ano 109 e muitos chineses o seguiram até lá. Eles levaram a escrita que sobreviveu, muito embora os governantes chineses tivessem deixado a Coreia um século mais tarde. A escrita chinesa permaneceu em uso durante séculos, embora tivesse que ser modificada para se adequar ao coreano, uma língua bastante diferente da chinesa.
A influência chinesa foi ainda maior no Japão. Houve uma invasão japonesa da Coreia no ano 370, e os especialistas coreanos em língua chinesa falada e escrita logo chegaram ao Japão. A disseminação do budismo também trouxe muita interação entre a China e o Japão, sendo que este último país adotou a escrita chinesa e adaptou- a à língua local.
Os coreanos e japoneses alteraram a escrita chinesa de formas diferentes. Os coreanos acrescentaram caracteres extras a fim de criar uma escrita silábica; os japoneses usaram alguns sinais chineses silabicamente e acrescentaram símbolos fonéticos. Tais adaptações mostram como a dominação cultural de um povo pode incentivar a difusão de sua língua escrita, mesmo em uma área onde não é idealmente adequada para a língua.
O incentivo ao comércio, a difusão da influência política, o registro da literatura e a transmissão de ideias religiosas são apenas alguns dos resultados mais importantes do uso da escrita. Quer seja a escrita alfabética, ou baseada em alguns outros princípios, o efeito sobre a disponibilidade e a transferência de informações têm sido de amplo alcance e muito durável.
A invenção do alfabeto é uma revolução na história da escrita. Alfabetos são sistemas de escrita puramente fonéticos, ou seja, cada símbolo representa um som (ou mais de um). O alfabeto é um sistema totalmente abstrato, ou seja, uma convenção. Não há ligação entre os significados e a representação gráfica do texto. Um mesmo alfabeto pode ser adaptado e utilizado para quaisquer línguas. É um sistema simples e democrático, porque sua aprendizagem está ao alcance de todos. O primeiro alfabeto conhecido é o fenício, que deu origem a quase todos os outros.
Alfabeto Fenício
Nascimento: Entre os séculos XIII e XI a.C.
Lugar onde surgiu: Oriente Médio, nas antigas cidade de Biblos e Tiro
Número de símbolos: 22
Algumas línguas que o utilizam: fenício e diversas outras línguas da Antiguidade, da região onde ele foi inventado.
Sentido de leitura: Da direita pra a esquerda
Funcionamento: Consonantal. Não está mais em uso, mas é o ancestral de quase todos os alfabetos e está na origem da línguas semíticas e da maior parte das línguas indo-europeias.
Alfabeto Hebraico
Nascimento: décimo século antes de Cristo
Lugar onde surgiu: Oriente Médio
Número de símbolos: 22
Algumas línguas que o utilizam: hebraico, aramaico, ídiche, judeu-espanhol, judeu-árabe, etc
Sentido de leitura: da direita para a esquerda
Sistema: Consonantal. Escrita ainda em uso
Nascimento: décimo século antes de Cristo
Lugar onde surgiu: Oriente Médio
Número de símbolos: 22
Algumas línguas que o utilizam: hebraico, aramaico, ídiche, judeu-espanhol, judeu-árabe, etc
Sentido de leitura: da direita para a esquerda
Sistema: Consonantal. Escrita ainda em uso
O alfabeto hebraico, como o fenício do qual é derivado, é consonantal. É ao pronunciar a palavra escrita que o falante inclui as vogais, pelo contexto. Existem atualmente alguns sinais vocálicos que podem ser acrescentados às letras, mas não são usados amplamente. O hebraico é um exemplo também de alfabeto que possui significação místico-religiosa. Tradicionalmente, eram atribuídos valores numéricos às letras do alfabeto. Assim, a primeira letra, “aleph”, representa a unidade e é associada ao conceito de Deus – único e onipresente na cultura hebraica.
Alfabeto Árabe
Nascimento: Entre o V e o IV século depois de Cristo
Lugar onde surgiu: Arábia
Número de símbolos: 28 símbolos
Línguas que o utilizam: árabe, persa, turco-otomano, malaio, urdu, e numerosas línguas africanas
Sentido de leitura: da direita para a esquerda
Funcionamento: Consonantal. Ainda em uso
Nascimento: Entre o V e o IV século depois de Cristo
Lugar onde surgiu: Arábia
Número de símbolos: 28 símbolos
Línguas que o utilizam: árabe, persa, turco-otomano, malaio, urdu, e numerosas línguas africanas
Sentido de leitura: da direita para a esquerda
Funcionamento: Consonantal. Ainda em uso
O alfabeto árabe é considerado sagrado porque, segundo a religião muçulmana, o Corão foi ditado diretamente por Deus ao profeta Maomé. Assim, o texto reflete a palavra divina. A caligrafia também é muito importante na cultura islâmica, e é utilizada para fins religiosos, artísticos e científicos.
Alfabeto Grego
Nascimento: aproximadamente décimo século antes de Cristo
Lugar onde surgiu: Grécia
Número de símbolos: 24 letras
Línguas que o utilizam: grego, e os extintos antigos jônico e dórico. Hoje é usado para a linguagem científica e matemática.
Sentido de leitura: originalmente da direita para a esquerda; a partir do século V a.C., da esquerda para a direita
Funcionamento: Alfabético. Alfabeto ainda em uso. Foi nesse sistema que foram inventadas as vogais.
Nascimento: aproximadamente décimo século antes de Cristo
Lugar onde surgiu: Grécia
Número de símbolos: 24 letras
Línguas que o utilizam: grego, e os extintos antigos jônico e dórico. Hoje é usado para a linguagem científica e matemática.
Sentido de leitura: originalmente da direita para a esquerda; a partir do século V a.C., da esquerda para a direita
Funcionamento: Alfabético. Alfabeto ainda em uso. Foi nesse sistema que foram inventadas as vogais.
Alfabeto Latino
Nascimento: século V a.C.
Lugar onde surgiu: Itália
Número de símbolos: 19 letras originalmente, mais tarde 24 e hoje, 26
Línguas que o utilizam: Inicialmente, línguas neolatinas e, atualmente, um grande número de línguas em todo o mundo.
Sentido de leitura: atualmente, da esquerda para a direita
Funcionamento: Alfabético. Atualmente em uso.
Nascimento: século V a.C.
Lugar onde surgiu: Itália
Número de símbolos: 19 letras originalmente, mais tarde 24 e hoje, 26
Línguas que o utilizam: Inicialmente, línguas neolatinas e, atualmente, um grande número de línguas em todo o mundo.
Sentido de leitura: atualmente, da esquerda para a direita
Funcionamento: Alfabético. Atualmente em uso.
O ALFABETO GREGO
Segundo Heródoto, um fenício
chamado Cadmos, que viveu de 1350
a 1209 a.C., instalou-se na Boécia,
onde fundou Tebas e começou a
escrever grego com 16 caracteres
fenícios. Conta-se também que,
durante a guerra de Tróia, surgiram
quatro novas letras, introduzidas por
Palamedes. O alfabeto grego teria
sido completado pelo poeta
Simônides de Ceos (556-468 a.C.)
com mais quatro letras. É difícil
distinguir a história da lenda.
O fato de colocar letras
representando consoantes e vogais,
umas ao lado das outras, compondo
as sílabas, deu ao sistema de escrita
o verdadeiro alfabeto. É por isso que
muitos estudiosos dizem que o
alfabeto propriamente dito foi
inventado pelos gregos.
Esta
afirmação dá ênfase à função das
letras na representação dos
segmentos das sílabas e deixa de
lado, de certo modo, a própria
natureza das letras, tal qual existia
na escrita semítica. São duas
concepções diferentes do que é uma
escrita alfabética.
No esforço para adaptar à sua
língua o sistema de escrita já
estabelecido para os fenícios, os
gregos seguiram o mesmo princípio
acrofônico da escrita fenícia.
Começaram adaptando os nomes das
letras lendo-os à moda grega. Assim,
ale passou a se chamar alfa, beth
passou a se chamar beta, e assim
por diante. O conjunto das letras
recebeu um nome composto pela
soma das duas primeiras, ou seja,
alfabeto. Algumas letras dos fenícios
representavam sons inexistentes em
grego. Passaram então, a representar
sons que existiam em grego mas não
nas línguas semíticas. As novas letras inventadas baseavam-se no
estilo gráfico das já existentes.
O alfabeto grego passou mesmo
a ter letras para mais de um
segmento fonético das sílabas, como
ζ = [dz], ξ =[ts], χ = [ks], Ψ [ps]. É
curioso notar que o grego arcaico
começou distinguindo a aspiração de
sua não-ocorrência através de
dígrafos, escrevendo ΘΤ para [th] e
somente depois a letra Θ passou a
representar sozinha o som [th],
ficando a letra Τ para representar [t].
A distinção entre κ e χ diferenciava
[k] e [kh]. Sutilezas fonéticas também
surgiram nas vogais, com letras
diferentes para as breves ε τ ο e as
longas η ω.
O documento mais antigo que
temos é a inscrição no vaso Dipylon
(entre os séculos IX e X a.C.). Outros
exemplos são as inscrições de
Yehimelek, Tera, Melos e Creta.
Somente no século IV a.C. foram
uniformizados os diferentes usos das
letras num alfabeto de 24 letras, com
uma ortografia estabelecida,
formando a escrita do grego clássico.
As marcas de acento e alguns
sinais de pontuação, acompanhando
a escrita das palavras, foram
introduzidas por Aristófanes de
Bizâncio (250-180 a.C.) e pelo grande
Aristarco. O documento mais antigo
com essas marcas é o papiro
Bacchylides, que data do século I
a.C., mas os sinais diacríticos só se
tornariam obrigatórios na escrita a
partir do século IX de nossa era. O
tipo atual dos caracteres gregos foi
lançado em 1660 por Wetstein na
Antuérpia.
Os antigos costumavam escrever
as palavras sem separação,
emendando umas nas outras. Para
evitar ambigüidades, ou
simplesmente destacar palavras,
usavam um ponto separando-as. Os
semitas escreviam em geral da direita para a esquerda. Os gregos
começaram a escrever na forma
bustrofedom (em grego, “caminho do
boi”), compondo uma linha da
esquerda para a direita e a seguinte
da direita para a esquerda,
invertendo a direção dos caracteres, e
assim sucessivamente a cada nova
linha.
UM IMPASSE NA ESCRITA
ALFABÉTICA
Alguns dos povos semitas, como
os egípcios, os assírios e os
babilônicos, tinham uma grande
civilização e contaram com sistema
de escrita próprios e bem
estabelecidos. Outros povos menores,
que viviam no Oriente Médio,
passaram a escrever somente depois
do surgimento da escrita alfabética. A
adaptação do sistema existente a
essas línguas ágrafas procurava
manter as funções das letras, com
variações locais na forma gráfica de
alguns caracteres, mas sem grandes
modificações, como as que ocorreram
entre os gregos.
Em ambos os casos, entretanto,
os usuários da escrita tiveram que
enfrentar o sério problema dos
dialetos. As diferenças dialetais da
língua grega podiam ser reunidas em
grandes grupos: o arcádio, da
Arcádia e de Chipre; o eólio da
Tessália, Beócia e do Norte; o Jônico,
da Ática; e o dórico, do Peloponeso
(exceto Árcadia) e Creta. Por sua
importância histórica e cultural, o
dialeto ático, próprio de Atenas,
prevaleceu e passou a ser conhecido
como koiné, ou seja, “língua
comum”. Posteriormente, a palavra
koiné passou a representar apenas a
linguagem do povo, por oposição à da
elite.
Diante de tal diversidade
lingüística, o alfabeto parecia fadado
a desaparecer, pois já não podia ser um sistema de escrita útil para uma
sociedade com tanta variação dentro
de uma mesma língua. Mas a escrita
acabou sendo salva pela ortografia.
Com a introdução da noção de
ortografia na escrita alfabética, as
palavras passaram a ser escrita
apenas de uma forma e foi possível
neutralizar as variantes dialetais.
Obviamente, a ortografia de uma
língua depende, basicamente, do seu
prestígio. A língua passa a ter uma
ortografia mais regular e estável
quando surge uma obra clássica
modelar. Foi o que aconteceu com o
grego antigo e, muitos anos depois,
com as línguas derivadas do grego e
do latim.
O ALFABETO ROMANO
Os etruscos instalaram-se no
centro da Itália por volta do ano 1000
a.C. Uma das poucas coisas que se
conhece deste povo é sua escrita,
baseada no alfabeto grego. Por volta
de 700 a.C., os etruscos começaram
a escrever, adaptando à sua língua o
alfabeto grego de 21 caracteres que,
com o tempo, chegou a ter 26 letras.
O documento mais antigo que
deixaram é o Cippus Perusianus, do
século V a.C.
Aos etruscos sucederam os
romanos. Roma foi fundada em 753
a.C. e desde sempre manteve
vínculos com os gregos. A República
Romana começou em 509 a.C. e, em
451 a.C., foi escrita a Lei das Doze
Tábuas. A mais antiga inscrição
conhecida em latim foi feita em
bustrofedom e gravada na “Pedra
Preta” do Fórum Romano, por volta
do ano 600 a.C.
Dos 26 caracteres etruscos, os
romanos passaram a usar apenas 21
letras. Algumas sofreram
modificações na forma gráfica e,
sobretudo, no valor fonético.
Depois
que houve uma mudança fonética significativa no latim, distinguindo
fonemicamente os sons k e g, a letra
C, que originariamente representava
o g, passou a representar o k; a letra
K, que representava o k, caiu em
desuso e foi substituída pela letra C.
Para representar, então, o som de g,
os romanos passaram a anotar a
letra C com uma pequena barra
vertical na parte inferior, no final da
curva, dando origem, assim, à letra
G. A invenção do G foi atribuída a
Spurius Carvilius Ruga (230 a.C.), Do
ipsilon grego, os romanos ficaram
apenas com a forma V,
representando um segmento labial
consonantal ou vocálico.
Posteriormente, com a distinção
fonêmica entre estas duas
realizações, a letra V ficou para o
segmento consonantal e a forma
arredondada U para a vogal. A forma
grega do Y limitou-se à escrita de
palavras de origem grega. Alguns
eruditos e até imperadores, como
Cláudio, tentaram inventar letras
para se tornarem famosos, mas
nenhuma dessas tentativas deu
certo.
Os romanos usavam um
diacrítico chamado apex para marcar
vogais ou consoantes longas
(geminadas). Tal uso não era, porém,
obrigatório. Esse diacrítico era um
acento ou uma vírgula sobre a letra: Í
= ii, S = ss. A partir do século II
torna-se mais comum o uso da
compendia, ou seja, da ligadura
para unir duas letras, como A+E –
Æ, O + E – Œ.
As formas gráficas da escrita
cursiva desenvolvida pelos romanos
alteraram bastante as letras capitais
de seus monumentos. Documentos
com esse tipo de escrita, chamado
pugillares, foram encontrados em
Pompéia em 1875. Em 1973, muitas
tabuinhas com a mesma forma de
escrita foram descobertas no poço de
um forte romano em Vindolândia, no
norte da Inglaterra. Com o objetivo de seguir o
princípio acrofônico já mencionado,
os romanos modificavam os nomes
das letras. Se a chave para a
decifração das letras está em seus
nomes, uma vez perdido totalmente o
caráter icônico das formas gráficas,
já não se precisava mais de nomes
com significados especiais para as
letras, como no alfabeto dos semitas.
Por outro lado, não havia
necessidade de adaptar esses nomes
à língua, como fizeram os gregos. O
mais prático era designar as letras
por monossílabos iniciados com o
som mais representativo de cada
uma delas.
Foi assim que as letras
passaram a se chamar a, bê, cê, dê,
etc. e o alfabeto passou a ter outro
nome, em português: “abecê”. Na
época de varrão (116-27 a.C.), havia
duas maneiras de dizer os nomes de
algumas letras: a antiga e uma nova,
com um E inicial, seguindo-se o som
da consoante, como em EF, EL, EM,
EN, ER e ES.
O ALFABETO ROMANO DEPOIS DO
LATIM
A forma misturada de dizer o
nome das letras em latim passou,
mais tarde, para as línguas
neolatinas, como o português. Essa
mudança alterou, em parte, o
princípio acrofônico. Posteriormente,
com a introdução de novas letras, o
princípio acrofônico nem sempre foi
respeitado. Assim a letras H, que os
romanos chamavam de adspiratio,
passou a se chamar agá em
português. Desde sua origem mais
remota, ela tem sido usada como
uma espécie de “curinga”,
representando sons diversos ou, mais
freqüentemente, modificando o valor
fonético da letra anterior e formando
dígrafos.
A letra W, em Portugal chamada de “duplo vê” e no Brasil de “dábliu”,
já aparece em documentos insulares
em 692 e veio, como o nome
português indica, da escrita de dois
V. Sua difusão deve-se ao extenso
uso que teve em manuscritos da
Alemanha nos séculos XI e XII.
No
século XVII, passou a representar
uma consoante diferente, tornandose
assim uma letra a mais no
alfabeto.
A letra J é também uma
invenção da Idade Média. Surgiu
quando os escribas perceberam que,
escrevendo dois ii góticos juntos,
pareciam estar escrevendo um H.
Para distinguir os dois casos, o
segundo I da seqüência passou a ser
grafado com uma pequena curva
virada para a esquerda, originandose
assim a letra J. O pingo do J
começou a aparecer no século XIV,
tornando essa letra mais fácil de ser
reconhecida na escrita gótica. Foi
Louis Meigret quem colocou no
alfabeto francês o J como letra
independente, em 1542. A escrita
minúscula passou a ter a barra
vertical do t aumentada, cortando a
barra horizontal, em 1467.
O alfabeto inglês antigo tinha
duas letras novas, o thorn ð e o
winn þ. A letra winn veio do alfabeto
rúnico, também derivado do romano,
e apareceu pela primeira vez num
documento do ano de 811. A letra C
representava o som inicial da palavra
child, escrita cild. A letra S passou a
ter duas formas gráficas: ƒ e S, e as
duas formas amalgamadas aparecem
na escrita alemã fracture como ß. A
letra Ç surgiu na península Ibérica,
quando as línguas neolatinas
começavam a ser escritas, para
representar o mesmo som grafado
pelos antigos ingleses com as letras
thorn e wynn. A forma gráfica mais
antiga do Ç era um C com um
pequeno Z subscrito.
Algumas línguas procuraram modificar a forma gráfica básica de
certas letras para obter novos
caracteres e assim representar sons
que não tinham letras próprias no
alfabeto romano. O tcheco, por
exemplo, incluiu letras como C C; o
rumeno, T; o norueguês, Æ Ø; o
sueco, Ä Å; o espanhol, Ñ etc. O uso
dos acentos para diferenciar
qualidades vocálicas diferentes em
português vem da influência árabe e
já aparece no português arcaico.
Convém lembrar também que os
alfabetos de algumas línguas
deixaram de lado certas letras do
alfabeto romano. O italiano não
possui as letras J, K, W, X e Y. O
iorubá não tem as letras C, Q, V e Z.
Finalmente, as letras do alfabeto
romano foram assumindo estilos
diferentes, com a produção de livros
manuscritos e, sobretudo, depois do
surgimento das tipografias (1456). A
forma gráfica das letras foi se
modificando criando-se, assim, novos
alfabetos.
A escrita monumental
romana deu origem às letras de
forma maiúsculas e a escrita
carolíngia deu origem às letras de
forma minúsculas, no século IX. No
século XII, surgiram as letras góticas
(ou pretas) e as escritas cursivas
caligráficas.
Folheando-se, hoje, uma página
de jornal ou de revista, constatamos
uma infinidade de alfabetos. Mas o
princípio alfabético permanece
constante: a ortografia define o valor
funcional das letras, mesmo quando
o aspecto gráfico vai gerando novos
alfabetos que, por serem usados para
transcrever uma mesma língua e
valerem como substitutos do alfabeto
romano primitivo (letras de forma
maiúsculas), são, para nós, simples
variantes de um mesmo alfabeto. Na
verdade, no mundo de escrita em que
vivemos, lidamos com inúmeros
alfabetos, além de contarmos, ainda,
com caracteres não alfabéticos, como
os pictogramas modernos, a escrita ideográfica dos números, das
abreviaturas, siglas, logotipos e
inúmeras marcas e sinais que
completam o nosso sistema de
escrita. O alfabeto, hoje, é apenas
uma parte do sistema de escrita que
usamos, mas as letras ainda são a
parte mais importante deste sistema.
Disponível em: http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/26/artigo190215-1.asp; http://www.10emtudo.com.br/artigo/a-historia-do-alfabeto/; http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=914&sid=7; http://www.dalete.com.br/saber/origem.pdf. Acesso em: 04/06/2015.
Imagem disponível em: http://pt.hereisfree.com/materials/download/2877.html. Acesso em: 04/06/2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário