ALFABETIZAÇÃO NA CHINA
Pequim, 01 Ago (Lusa) - A taxa de analfabetismo na China está a baixar a uma média de dois milhões por ano desde 2000, sendo a alfabetização das mulheres, agricultores e minorias étnicas o maior desafio para o governo, publica hoje a imprensa estatal.
Desde o início da década de 90, a China retirou 46,5 milhões de pessoas da condição de analfabetos, de acordo com dados apresentados pelo conselheiro de Estado Chen Zhili, durante uma conferência sobre educação, em Pequim.
"A luta contra o analfabetismo na China fez-se através da promoção da política educativa dos nove anos mínimos de escolaridade, particularmente nas zonas rurais, onde vive 90 por cento da população analfabeta do país", afirmou Chen, citado pelo jornal China Daily.
O governo comunista tem como objectivo reduzir a taxa de analfabetismo nos adultos para os 40 milhões de pessoas em 2015, e para isso aposta em acções para educar as mulheres, as minorias étnicas e os trabalhadores migrantes, informou terça-feira o Ministério da Educação chinês em conferência de imprensa.
Em 2005, Pequim gastou mais de 356 mil milhões de renminbi (34,4 mil milhões de euros) na implementação do sistema de educação obrigatória até ao nono ano, um acréscimo de 106 por cento em relação ao ano anterior.
O director da UNESCO, Mark Richmond, elogiou o "forte compromisso e as medidas inovadoras" que levaram a China a "liderar a luta contra o analfabetismo".
"O modelo da China, assente nos esforços do governo, é muito interessante para as regiões onde a maior parte das melhorias na área da educação foram feitas a um nível mais básico", disse Richmond no decorrer da mesma conferência na capital chinesa.
De acordo com as últimas estatísticas oficiais, em 2000 a China tinha mais de 80 milhões de analfabetos com mais de 15 anos, 72 por cento dos quais eram mulheres.
O censo de 2000 revelou ainda que a taxa de analfabetismo em idade adulta na China era de 9,08 por cento, enquanto a nível mundial se situava nos 20,3 por cento.
Em todo o mundo, há 774 milhões de adultos que não sabem ler nem escrever (dois terços são mulheres), e 74 milhões de crianças em idade escolar não estão a estudar, revelam os últimos dados da UNESCO.
Na China é considerado letrado alguém que consiga ler e escrever 1500 caracteres, enquanto uma pessoa licenciada deve conhecer entre sete mil e dez mil caracteres.
No início do século XX, uma grande percentagem da população chinesa era analfabeta, mas a simplificação dos caracteres e as campanhas de alfabetização lançadas pelo regime comunista levaram a China a atingir em 2000 uma taxa de alfabetização de 90 por cento, segundo dados das Nações Unidas.
A alfabetização na China aumentou nos últimos anos, mas ainda é baixa entre as mulheres, a população rural e as minorias étnicas, segundo informou hoje o jornal estatal "China Daily".
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Koichiro Matsuura, qualificou o programa de alfabetização na China de "exemplo" para outros países em vias de desenvolvimento.
Matsuura falou durante a Conferência Regional de Apoio à Alfabetização Global, em Pequim.
A conselheira de Estado chinesa Chen Zhili declarou que "desde o ano 2000, o número de analfabetos baixa 2 milhões por ano" no país.
Apesar da melhora, ainda há na China 80 milhões de analfabetos acima dos 15 anos. Eles são 9,08% da população, e 72,7% dos analfabetos são mulheres, segundo os dados do Censo Nacional de 2005.
Chen declarou que China promove uma política de educação obrigatória, especialmente nas zonas rurais, onde vivem 90% dos analfabetos do país.
Matsuura disse que há 774 milhões de adultos analfabetos no mundo todo. Dois terços são mulheres.
Na região do leste e Sudeste Asiático, a alfabetização atinge 91,7% da população, e 70,4% dos analfabetos são mulheres.
Terminou recentemente em Beijing a Conferência sobre a Alfabetização da Região Ásia-Pacífico. A conselheira de Estado chinês Chen Zhili disse durante o conclave, que o governo chinês quer reduzir o índice dos analfabetos entre os jovens e adultos para cerca de 2% até 2010 e dar sua ajuda aos países na alfabetização.
A conferência faz parte de uma série de reuniões da Unesco com o fim de impulsionar a criação das relações de parceria entre os países do Leste da Ásia, Sul da Ásia e da região Ásia-Pacífico e intensificar os esforços pela alfabetização em todo o mundo. Representantes de mais de 10 países e regiões, bem como representantes das organizações internacionais interessadas, participaram da conferência.
Em discurso pronunciado na cerimônia de abertura, a conselheira de Estado Chen Zhili, declarou a disposição do governo chinês para os trabalhos de alfabetização. Ela disse: "A China priorizará os trabalhos de alfabetização entre as mulheres e a população das minorias étnicas e se esforçará para reduzir o índice dos analfabetos entre os jovens e adultos para 2% em 2010, e até 2025, o índice dos analfabetos entre os adultos deverá ser reduzido 50% contra o índice atual."
Reproduzo o capitulo 4 do livro China: O Nordeste que deu certo da escritora e jornalista Heloneida Studart. Ela, visitou a China 30 anos após a Revolução Comunista de 1949 e descreveu suas experiências em um país que procurava esquecer seu passado colonial: período em que todo seu povo era escravizado pelas potências industriais européias e pelo Japão. Nesse capítulo chamado Como o analfabetismo acabou ela explica como os chineses conseguiram em poucos anos alfabetizar uma população em que 80% não sabiam ler e escrever.
Na aldeia Zhao, vi algumas escolas primárias. Todas singelas, com o modesto quadro negro, as carteiras de madeira sem verniz, os garotinhos olhando atentamente para o professor e rabiscando aqueles caracteres incríveis em blocos de papel ordinário. Em matéria de Educação, duas coisas me impressionam na China: o comportamento do aluno e a extinção do analfabetismo. Não é fácil alfabetizar centenas de milhões de pessoas. Principalmente, se a escrita é compota daqueles inumeráveis caracteres, cada um deles constituídos de muitos traços, com uma estrutura complexa que os torna difíceis de ler, memorizar e escrever – desconfio que eu passaria anos antes de conseguir reconhecê-los. Assim mesmo, realizada a Libertação e feita a reforma agrária, os chineses lançaram-se à tarefa de acabar com o analfabetismo (80% da população era analfabeta; no campo, este percentual alcançava 90%). Havia aldeias em que não existia um único camponês alfabetizado. E assim, receber ou enviar uma carta significava, ir à aldeia vizinha, para pedir ajuda de quem soubesse decifrar os caracteres. Em 1955, a palavra de ordem de alfabetizar todo o país assumiu uma forma planificada. E como, na China, não funcionava a filosofia do “eu estou na minha”, todo partiram – com todos – para ensinar a ler e a escrever a milhões de chineses entre 15 e 45 anos de idade. Foi fundada uma Associação Nacional de Alfabetização e houve uma convocação geral às massas para que ajudassem o plano. Representantes dos sindicatos, das organizações feministas e das entidades juvenis começaram a mobilizar todas as forças sociais para a campanha. Não havia sala vazia ou praça disponível em que os chineses não se reunissem para discutir os métodos a serem usados. Discursos, conferências, jornais murais difundiam a urgência da aplicação do plano. Enquanto isso, aos milhares, os ativistas voluntários iam de casa em casa para ensinar aos analfabetos. Só na província costeira de Shan Dong participaram do trabalho de alfabetização três milhões de pessoas: “Você tem certeza de que entraram milhões?”, indaguei, boquiaberta, receando que, em minha rua, eu não mobilizasse, para a mesma tarefa, mai de três pessoas. “Em Shan Dong – explicou ela. – Porque o continente inteiro tinha, só de jovens, 30 milhões. Eles foram ensinar nas escolas noturnas, cursos de alfabetização e escolas de inverno. Em todos os lugares onde havia adultos que não sabiam ler nem escrever”.
Além desses tipos de curso, os chineses criaram “grupos de estudos em casa”; qualquer pessoa que soubesse ler ia à casa de quem não sabia. Ali, entre goles de chá fumegante, empenhava-se em lhe explicar os 1500 caracteres chineses. Donas-de-casa que haviam nascido e crescido na China antiga, tendo comido apenas a sobra de arroz de seus pais (e depois, a de seus maridos), começaram a memorizar os traços inumeráveis. Segundo Fan, elas chegaram a ser patética em sua decisão de aprender a ler e a escrever a qualquer custo. Às vezes, levavam os cartões com caracteres escritos no bolso do blusão para olhá-los, de vez enquanto cozinhavam ou arrumavam. Algumas os rabiscavam nos móveis, nos quartos, nas panelas; encorajavam seus maridos (quando estes estavam lutando para aprender) a levar caractere pintado em tabuletas para o campo e os colocarem ao lado dos canteiros de trabalho. Houve mulheres que pintaram o caractere em árvores. Quem passasse, dava uma olhada.
Os camponeses, por sua vez, tratavam de instalar salas de aula desocupadas emprestadas, levavam para lá os móveis de seus próprios lares. E quando não tinham, conduziam caixotes ou arrumavam bancos feitos de tijolos. Em apenas um ano e meio, a maioria desses milhões de esforçado já podia ler jornais, escrever recados – e cartas - , anotar pontos de trabalho.
Para prevenir um retrocesso possível, o Plano de Alfabetização foi em frente, criando escolas regulares: primárias e secundárias, escolas agrícolas e até “universidades de horas de folga”. Onde não havia condições, os alfabetizados se organizavam em grupo de autodidatas. E recebiam de organizações oficiais, livros e jornais.
O trabalho foi mais fácil nas grandes cidades mas também exigiu uma cooperação total – cada operário alfabetizado ensinava ao outro, analfabeto; se preciso, este tinha o horário reduzido, para estudar. Os chineses não menosprezavam a palavra heroísmo. O altruísmo maoísta é um dos dados mais importantes deste processo de transformação. Constituíram uma sociedade que defende determinado valores, com pontos de referência nítidos. Onde ninguém diz “não é da minha conta” e existem papéis definidos para as pessoas desempenharem, obtidos por um consenso geral da sociedade. Isso é tento mais evidente quando a gente vê o comportamento das crianças, nas escolas. Elas não sobem nas carteiras, nem jogam um balde de tinta na cara dos professores, como acontece em nossos mais avançados jardins-de-infância. Também não tiram a roupa e não “manifestam sua agressividade” rasgando os cadernos e atirando-o para o alto. Até mesmo os garotinhos de dois anos ficam quietos, em fila, ou sentados com os braços para trás – que é bom para a coluna, me explicam. Todos cantam e dançam o que lhes pedem, sempre muito tranqüilos e sorridentes. No pátio, fazem ginástica, com disciplina e ritmo, ou se submetem ao exercício ocular. Nas escolas primárias as crianças fazem esse exercício todos os dias, durante cinco minutos (quase não vi óculos em território chinês e atribuía a ausência ao fato dos chineses não terem o hábito de ver os irresistíveis anúncios das óticas na televisão). De um modo geral, fiquei tão espantada com a disciplina das crianças chinesas – entre nós é sabido que se as crianças não fizerem pipi dentro da sopeira quando quiserem, poderão ficar traumatizadas – que perguntei se ainda usavam, na China, a palmatória ou a vara de marmelo. Os professores riram: “Mao era mestre-escola e tinha ponto de vista firmado contra os castigos. Mas aqui existe a pressão social. Que tem a maior força sobre o comportamento de crianças e adultos”.
A explicação foi interrompida por uma menininha de tranças enlaçadas. Dizendo “seja bem-vinda, tia”, me entregou um complicado brinquedo feito por ela. Que me pareceu tão sofisticado e belo como o próprio palácio do céu.
Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI1801693-EI294,00-Alfabetizacao+aumenta+na+China+mas+ainda+e+baixa+entre+mulheres.html; http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=704426; http://portuguese.cri.cn/165/2007/08/07/1@72767.htm; http://www.comunistas.spruz.com/pt/Como-acabou-o-analfabetismo-na-China/wiki.htm. Acesso em: 29/08/2015.
Imagens disponíveis em: http://www.comunistas.spruz.com/pt/Como-acabou-o-analfabetismo-na-China/wiki.htm. Acesso em: 29/08/2015.
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