PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO:
CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE PARA A ESCOLA
Luciana Lima, Mônica Santos, Selma Guadalupe e Zélia Nogueira
Analistas Educacionais da SRE Divinópolis
Projetar é, a partir do lugar em que nos encontramos, vislumbrar um futuro desejável, é “desenhar” um ideal e traçar um caminho que nos leve ao lugar aonde queremos chegar. Projetar é reunir informações e dados sobre a realidade na qual queremos intervir e definir quais ações precisam ser realizadas para nos aproximarmos do ideal traçado. Projetar é analisar o caminho percorrido para ter certeza de que estamos no caminho certo e pensar no que fazer para corrigir eventuais desvios, para achar/retomar o caminho certo. O termo projeto refere-se, então, às ideias de futuro, de sonho e dos passos necessários à sua realização.
O termo “político” significa que a escola vai definir aqui, de forma participativa, as suas posições em relação à educação, à cidadania e à sociedade. Adilene Gonçalves Quaresma resume esse ponto assim: “O PPP busca o rumo para a escola. A sua dimensão política compreende o que se deseja em relação à formação do cidadão e ao tipo de sociedade que se deseja construir, bem quanto ao que se compreende sobre educação. A dimensão política traduz o tipo de aluno que se quer formar, o tipo de sociedade que queremos e o tipo de educação que desejamos.” (grifo nosso) O aspecto político está intimamente relacionado à missão, visão e objetivos da escola, por isso é fundamental que esses pontos sejam discutidos com toda a comunidade escolar, com o maior número possível de atores.
O aspecto pedagógico do PPP diz respeito ao lugar onde estamos; a função da escola é pedagógica, ela existe para ensinar/educar e é essencial que se defina como a escola irá cumprir a sua tarefa máxima, através de quais caminhos, procedimentos, metodologias, recursos? Esse aspecto chama a atenção para a necessidade de se discutir questões como currículo (o que ensinar?), metodologia (como ensinar?), avaliação (como verificar e promover a aprendizagem?), relação professor-aluno, forma de gestão, enfim, aspectos que definam a qualidade da educação que será praticada nessa escola.
Elaborar um projeto político-pedagógico para a escola é superar o individualismo, a desesperança e a impotência, é aumentar o grau de realização e satisfação profissional; direcionar os esforços e recursos para um fim único e racional, definido coletivamente.
A elaboração do projeto político-pedagógico é a oportunidade que a escola tem de se repensar, reavaliar e rediscutir a sua identidade e as suas práticas com vistas à construção de uma escola que se aproxime mais do ideal almejado pela comunidade escolar.
Repensar a escola como um todo, conferir mais coesão e coerência à prática pedagógica de todos os educadores e contribuir para uma maior e mais efetiva democratização da escola são os grandes objetivos desse processo. Para que a construção do PPP se dê de forma realmente pedagógica e democrática, dois aspectos são essenciais:
fazer um diagnóstico bastante amplo da realidade escolar e,
promover o maior nível possível de participação e envolvimento de toda a comunidade escolar .
Em relação ao diagnóstico, é fundamental que educadores, especialistas e diretores mostrem-se realmente abertos e dispostos a reconhecer e discutir os pontos fracos ou aspectos negativos da realidade escolar. É muito comum a negação dos problemas e/ou a culpabilização. É importante admitir a existência dos problemas e pensar nas medidas concretas que a escola pode adotar para resolvê-los ou, pelo menos, minimizá-los. O mais importante não é descobrir culpados e sim descobrir o que cada um pode fazer para diminuir os problemas e avançar rumo à escola com a qual sonhamos.
O PPP é uma ferramenta, é um instrumento que vai orientar a prática da escola e, para que a escola consiga aperfeiçoar-se, é imprescindível que se auto-avalie, que reflita e busque soluções para os seus problemas. Esse processo exige de todos uma postura honesta, humilde e corajosa. Uma boa pergunta para orientar a feitura do diagnóstico é: o que ou quais dificuldades têm nos impedido de sermos a escola que gostaríamos de ser?
O segundo aspecto a ser considerado é a questão da participação e isso precisa ser pensado com muita seriedade. As pessoas devem ser motivadas e convidadas a participar, mas não devem ser obrigadas, elas precisam acreditar e aderir a este processo, do contrário, não será produtiva a sua participação. É fundamental que todos entendam que um processo realmente democrático é lento e trabalhoso; exige paciência, respeito, disponibilidade, abertura e boa-vontade de todos os participantes. Os conflitos, as divergências não podem ser negados ou ignorados, eles precisam ser resolvidos de forma democrática, por mais que isso seja difícil. As diferenças aparecerão inevitavelmente, deverão ser explicitadas e precisarão ser resolvidas a partir do diálogo aberto, franco e argumentativo, visto que a diferença e a diversidade (cultural, econômica, intelectual, política …) são inerentes ao ambiente escolar, contribuem para que ele se torne muito mais rico e podem contribuir para que a escola reflita sobre si mesma de forma mais ampla e profunda, vislumbrando novas possibilidades.
Segundo Celso dos Santos Vasconcellos “(...) É o coletivo que vai fazer sua leitura da realidade, manifestar seus objetivos e assumir compromissos com a prática transformadora, de tal forma que o Projeto contemple sua singularidade e tenha a cara da escola.”
A missão e a visão da escola serão um reflexo dos princípios e valores nos quais ela acredita e que orientarão toda a sua prática. Os princípios e valores adotados pela escola devem estar em consonância com a sua realidade; com a realidade que ela precisa interpretar com vistas a uma possível transformação. Uma escola confessional vai priorizar valores religiosos, uma escola de periferia talvez deva priorizar valores como a inclusão, a cidadania e/ou a diversidade cultural etc.
O PPP deve, enfim, ser o guia da escola, uma construção coletiva que vai definir quais são os valores nos quais a escola acredita, que tipo de formação ela vai oferecer e como – através de quais ações - ela fará isso. Um dos requisitos mais importantes e que deve ser o fio condutor do PPP é a coerência, não podemos adotar princípios como respeito, solidariedade, cidadania e trabalhar com metodologias autoritárias, ou adotar formas de enturmação que sejam excludentes e discriminatórias ou ainda, praticar avaliações que sirvam apenas para classificar, estigmatizar e rotular os educandos.
O PPP é uma construção possível, tem que ser feito com a participação de todos os membros da comunidade escolar e pode, acima de tudo, ser um instrumento capaz de transformar positivamente toda a vida da escola, descortinando novos e mais promissores horizontes.
Bibliografia:
MORETTO, Vasco – Vídeo sobre o Projeto Político-pedagógico.
QUARESMA, Adilene Gonçalves – Projeto Político-pedagógico – Revista Presença Pedagógica * v 18 *nº 104 * mai/abr.2012
VASCONCELLOS, Celso dos Santos – Projeto Político-pedagógico: Considerações sobre sua Elaboração e Concretização – Caderno de Textos da Oficina 04 do Encontro de Avaliação Educacional: Trabalhando os resultados do SIMAVE * 22-25/05/2012.
VEIGA, Ilma Passos de Alencastro – Projeto Político-pedagógico da Escola: uma construção coletiva. Projeto Político-pedagógico da Escola: uma construção possível/ Ilma Passos de Alencastro Veiga (org.) - Campinas-SP: Papirus, 1985.
Disponível em: http://robustaopiniao.blogspot.com.br/2012/11/projeto-politico-pedagogico-construindo.html. Acesso em: 09/11/2015.
Imagem disponível em: http://dalianet.blogspot.com.br/2015/03/equipe-do-caic-elabora-projeto-politico.html. Acesso em: 09/11/2015.
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