FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS EM ALFABETIZAÇÃO
O contexto histórico sobre a alfabetização no Brasil oferece-nos um aporte
fundamental para revelar como essa problemática configura-se atualmente.
Salientamos que, por séculos, houve grande número de analfabetos no Brasil,
compondo uma realidade que só veio a ser alterada a partir da difusão da escola
pública gratuita e obrigatória, com o advento da República. Segundo Soares (1991,
p. 9), “na verdade, o discurso oficial pela democratização da escola, seja na direção
quantitativa, seja na direção qualitativa, procura responder à demanda popular por
educação, por acesso à instrução e ao saber”. A alfabetização, por longo tempo,
remetia apenas à simples codificação e decodificação dos códigos linguísticos, que
foram sendo ampliados através da difusão das cartilhas para atender a demandas da sociedade. Os métodos tradicionais imperavam com suas cartilhas e lições, mas, de
certo modo, apresentam algum sentido para aquela sociedade.
Com o passar do tempo, novas necessidades começaram a emergir, especialmente
diante do desafio que se foi instaurando com o advento da globalização, no final
do século XX. O mundo letrado assumiu um espaço privilegiado na sociedade, e a
aquisição de práticas de leitura e escrita tornou-se uma ferramenta indispensável,
considerada uma meta de conhecimento a ser atingida por todos, diante da
necessidade que os meios de comunicação e o acesso pelos meios informatizados
requerem. No entanto, os métodos tradicionais de ensino da leitura e escrita não
conseguem mais corresponder à formação dos cidadãos.
No Brasil houve, a partir dos anos 80, com a chegada das teorias de Emília Ferreiro,
inúmeras discussões acerca desse novo modo de pensar a alfabetização. A principal
questão levantada era a eficácia e a falta de um método de trabalho no processo
ensino-aprendizagem, uma vez que se trata de uma abordagem de ensino. Passadas
mais de duas décadas do início das discussões e aproximações com os princípios
construtivistas, continuam sendo discutidos pontos elementares desta teoria, porém
os esforços para que, de fato, haja a efetivação desses princípios têm sido grandes
por parte dos dirigentes educacionais. A presença dessa concepção educacional está
em todos os parâmetros e referenciais para a educação nacional, mas ainda nos
deparamos com interpretações equivocadas no cotidiano escolar.
Atentando-nos a esse quadro contextual, a presente investigação tem como
objetivo central identificar os saberes teóricos dos professores a respeito das bases
construtivistas como fundamento para o processo de aquisição da língua escrita.
Neste âmbito, identificaremos alguns problemas enfrentados pelos professores no
planejamento de atividades de leitura/escrita, também incidindo sobre a relevância
que se confere às atividades de leitura e escrita na realização das unidades escolares.
A formação de professores no Brasil é marcada fortemente pelos métodos
tradicionais e tecnicista de ensino, ou seja, métodos com etapas definidas. Ambrogi
(2009) ressalta que, a partir da década de 80 do século passado, com a chegada do
construtivismo e do sócio-interacionismo, que são abordagens focadas na reflexão
docente e em etapas não lineares, os professores caíram num vazio. O planejamento
estruturado e as etapas de trabalho com começo, meio e fim deram espaço a uma
postura mais reflexiva, postura até então desconhecida pelo professor. Outro fato advindo desta problemática entre formação de professores e as
novas necessidades no dia-a-dia da sala de aula iniciou-se na década de 70, com a
democratização de ensino. Ambrogi (2009) assinala que “esse fato gerou um estado de
paralisia na maioria dos professores. Eles não sabiam o que fazer diante da demanda,
desconhecida até então” (p. 5-6). As escolas foram abertas aos mais pobres, que,
sem recursos, por muitas vezes não tinham dinheiro para o material escolar. Acesso
esse importante, mas que não passou de uma jogada política do governo militar
para se manter no poder, extinguindo o exame de admissão e implementando o
primeiro grau com oito séries obrigatórias para toda a população. Passados mais de
vinte anos da chegada da abordagem construtivista e sócio-interacionista no Brasil,
e consequentemente dos estudos de Ferreiro e Teberosky (1999), a paralisia dos
professores inicialmente ocorrida na década de 80 vem perdurando, visto que as
avaliações realizadas em nível nacional só reforçam a deficiência em leitura e escrita
das nossas crianças.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Questões realizadas Depoimentos dos professores
Questão 1: O que você considera
determinante para o sucesso de
alfabetização de seus alunos?
Interesse do aluno, dedicação do professor,
apoio familiar.
Questão 2: Você costuma ler livros,
revistas, artigos sobre alfabetização?
Cite algo que você tenha aplicado e
que os resultados foram satisfatórios,
ou algo que você tenha lido e aplicado
e que os resultados não foram os
esperados?
Acho que são muito repetitivas as coisas.
Mudam-se os nomes, muda-se a fonte, mas é
muito repetitivo. Então o que eu tenho acesso
mesmo é em roda de professores, de conversa
ou na hora de trabalho pedagógico coletivo
(HTPC). Por minha própria experiência eu fui
construindo meu método de ensino.
Questão 3: Você consegue associar
algumas de suas práticas a alguma
teoria já difundida?
[...] normalmente eu relembro as coisas que
vi no magistério e vou tentando fazer, mas
normalmente vou naquilo que acho mais
adequado, que está surtindo efeito, que está
havendo troca, que vou aplicando e está sendo
bem desenvolvido, senão eu volto atrás. Mas
pra dizer que eu sigo à risca alguma coisa, eu
não me recordo.
Questão 4: Cite algum curso, palestra
ou oficina que realmente contribuiu
na sua formação profissional? Quais os
conteúdos abordados?
Programa de Formação de Professores
Alfabetizadores (Letra e vida). Os conteúdos
abordados focam-se nos princípios
construtivistas no processo ensinoaprendizagem.
Questão 5: Como você lida com os
diferentes tipos de alunos (diferenças
de níveis) em sua sala?
Tento individualmente ajudar cada um pra
ver o que eu posso auxiliá-lo, para que ele se
desenvolva na melhor forma possível.
Podemos ressaltar que as práticas e os discursos dos professores ainda estão
fortemente ligados à escola tradicional. O contexto histórico no qual este método
era utilizado era muito diferente do de hoje, que exige habilidades e competências
importantes para que os alunos se apropriem efetivamente da leitura/escrita,
de forma a entender as complexas relações que se dão em contextos de ordem
local e global. É importante salientar que esses discursos não são contrários ou
favoráveis aos métodos tradicionais, já que vemos claramente que, em virtude dos
documentos educacionais apregoarem os princípios construtivistas, os docentes,
consequentemente, assumem uma posição que o valide, mas que na maioria das vezes
não integram as suas práticas cotidianas. Assim, temos uma abordagem difundida e
muito discutida no âmbito nacional, mas que se reduz a esforços institucionalizados
sem o efeito idealizado por aqueles que realmente são os responsáveis diretos pelo
processo ensino-aprendizagem, os docentes.
Faz-se necessário pontuar que a conjuntura do processo de alfabetização e
todas as suas especificidades é transversalmente definida por uma série de fatores
imprescindíveis que asseguram o sucesso da alfabetização das nossas crianças.
Penalizar o professor como o único responsável pelos alarmantes índices de
crianças que ainda não leem e escrevem no final do ensino fundamental I constitui
culpabilizar apenas um dos agentes desse processo. As políticas públicas, por sua
vez, são fundamentais para a mudança dessa problemática, pois são os dirigentes
educacionais que definem os programas, os objetivos, as metas que possam alterar
esta realidade.
Disponível em: http://periodicos.uniso.br/ojs/index.php?journal=reu&page=article&op=view&path%5B%5D=487&path%5B%5D=488. Acesso em: 11/04/2015.
Imagem disponível em: http://eeappjardim.blogspot.com.br/2013/03/professores-app-formacao-continuada-dia.html. Acesso em: 11/04/2015.
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