DEBATE SOBRE A
BASE NACIONAL COMUM
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o maior documento a receber sugestões e contribuições da sociedade durante a sua elaboração. No ar desde 15 de setembro de 2015, o portal da Base recebeu, até 30 de novembro, cerca de 4,2 milhões de contribuições de 119 mil professores, 3,1 mil estudantes, 1,6 mil pais, 1,8 mil organizações da sociedade civil, pequisadores e 21,3 mil escolas públicas e privadas.
A Base Nacional Comum está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), que entrou em vigor em 2014. É ela quem vai definir, a partir do ano que vem, quais são os "objetivos de aprendizagem" a serem considerados pelos professores e coordenadores na hora de elaborar o projeto pedagógico da escola e o currículo das aulas de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
A Base Comum vai ser igual para todo o Brasil. Mas ela prevê espaços para a "base diferenciada", que são os conteúdos definidos pelas escolas e redes, de acordo com as particularidades de suas regiões.
Segundo Manuel Palácios, secretário da Educação Básica do Ministério da Educação, essa parte diferenciada da base não diz respeito apenas a conteúdos da geografia e da cultura locais, mas também do perfil dos estudantes, principalmente os adolescentes e jovens.
"Você pode ter um ensino médio com base comum e ter uma base diferenciada que guarda relação com itinenários alternativos. Claro que depende das condições que cada estado tem, mas você pode ter o ensino profissional, por exemplo, para que ensino médio tenha significado para o jovem", afirmou ele, em entrevista ao G1.
Os projetos pedagógicos das escolas eram definidos de acordo com os Parâmetros Nacionais Curriculares. Para o secretário, a diferença entre os dois documentos está no detalhamento.
A Base tem objetivos mais concretos e consegue orientar melhor os planos de alta e o projeto pedagógico.
"Essa é uma discussão que envolve os profissionais. É uma discussão sobre aprendizagem de determinada área, é específica, não é uma discussão geral. Tem a ver com a profissionalização da educação, com o fortalecimento dessa cultura profissional associada ao ensino básico", explicou Palácios.
O prazo final para que o documento final da Base esteja pronto e aprovado é junho de 2016. Antes disso, é preciso concluir algumas fase: elaboração da proposta preliminar, consulta pública, elaboração da segunda versão, seminários entre as redes de ensino, elaboração da versão final, e a discussão e votação.
A comissão que trabalhou na primeira fase foi nomeada em junho de 2015, e a elaboração da proposta preliminar foi concluída em 15 de setembro, com a divulgação desse documento. Segundo Palácios, esta comissão continua trabalhando e vai elaborar as outras duas versões da BNCC.
Entre setembro de 2015 e março de 2016, o governo federal realiza a segunda fase, de consulta pública. Em abril, a segunda versão do documento será divulgada, e serão realizados seminários em todos os estados, para que as secretarias estaduais e municipais deem suas últimas contribuições.
Entre maio e junho, a comissão fará a última versão, que será apresentada, avaliada e votada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). De acordo com Palácios, o CNE já tem sido envolvido nas discussões, para que a avaliação do documento pelos conselheiros não seja restrita à fase final. O prazo para que ela esteja pronta é 24 de junho de 2016.
A proposta preliminar foi feita por uma comissão de 116 especialistas de 37 universidades de todas as partes do Brasil. Além de professores, há membros de entidades que representam os gestores (o Conselho Nacional de Secretários de Educação Estaduais, Consed, e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Undime).
Há dois tipos de contribuições a serem incorporadas à proposta preliminar: as enviadas pelo portal por qualquer pessoa que quiser fazer o cadastro, e as avaliações produzidas por "leitores críticos", um grupo de profissionais e especialistas nas áreas do conhecimento da Base que foi convidado pelo MEC para ler a proposta.
O MEC também vai criar, entre dezembro e janeiro, uma comissão de representantes do governo, do CNE, do Consed, da Unime e especialistas das áreas para definir "parâmetros" a serem levados em conta pelo grupo responsável por produzir a segunda versão da BNCC.
O objetivo, segundo ele, é "tomar decisões com relação à forma final dessa proposta". Esses parâmetros incluem a padronização da redação, a forma de entendimento na hora de definir os objetivos e a previsão dos tipos de problemas e dúvidas que podem surgir no processo.
"A Base Nacional é um grande acordo interfederativo. Precisamos, ao final, ter um entendimento que reúna estados e municípios brasileiros", disse o secretário. A partir da segunda versão, um novo processo de consulta aos gestores de educação das redes será feito, dessa vez presencialmente, por meio de seminários em todos os estados.
Após a incorporação das contribuições surgidas nos seminários, a comissão de especialistas vai elaborar a última versão da Base.
Quem tem a palavra final, porém, o CNE, que vai votar a matéria em uma plenária.
De acordo com Palácios, a implementação da BNCC vai ficar nas mãos das redes e, por isso, vai acontecer de maneiras diferentes pelo Brasil. Porém, ela ainda deve levar alguns anos para ter um impacto no ensino.
"Esse calendário é de cada estado, de cada município, cabe ao Consed estabelecer uma forma de implementação disso. Mas tem outros componentes, que têm execução federal. A produção de material didático tem que se ajustar, as avaliações federais também, a formação de professores. A Base Nacional, sendo aprovada em 2016, só vai acertar o programa didático em 2019, as avaliações nacionais provavelmente só serão afetadas em 2018. Você pode imaginar um processo de implementação da base tanto nos estados quanto na União que vai se distender ao longo de alguns anos."
Sim. Palácios afirma que o documento final deve incluir mecanismos para que a BNCC seja revista.
"Um outro ponto importante para falar é que é uma norma que deve ser passível de revisão permanente. É muito provável que a base preveja procedimentos necessários para sua revisão. Ainda mais sendo o primeiro esforço de detalhamento", explicou o secretário.
Há também um "Movimento pela Base", que é um grupo não governamental de profissionais e pesquisadores da educação que atua, desde 2013, para facilitar a construção de uma Base de qualidade. O Movimento promove debates, produz estudos e pesquisas, investiga casos de sucesso em vários países e entrevista inúmeros alunos e professores.
Em abril de 2013, um grupo de especialistas em Educação se reuniu para discutir a adoção de uma Base Nacional Comum no Brasil. Para eles, este era um passo crucial para promover a equidade educacional e o alinhamento de elementos do sistema brasileiro. A criação de uma base serviria como “espinha dorsal” para os direitos de aprendizagem de cada aluno, a formação dos professores, os recursos didáticos e as avaliações externas.
Desde então, esse grupo, que hoje conta com cerca de 60 integrantes, busca facilitar e acelerar o processo de construção da Base, apoiando e disseminando pesquisas e insumos técnicos que alimentem o debate e mobilizando atores chave - gestores, acadêmicos, pesquisadores, professores, líderes da sociedade civil organizada - em torno da causa.
Desde então, esse grupo, que hoje conta com cerca de 60 integrantes, busca facilitar e acelerar o processo de construção da Base, apoiando e disseminando pesquisas e insumos técnicos que alimentem o debate e mobilizando atores chave - gestores, acadêmicos, pesquisadores, professores, líderes da sociedade civil organizada - em torno da causa.
São princípios para orientar a construção da Base, para que de fato ela seja aproveitada em sala de aula e promova a equidade educacional. O Movimento atua para que esses princípios sejam seguidos ao longo de todo o processo de elaboração do documento.
Entenda em profundidade as ideias e os princípios defendidos pelo Movimento pela Base Nacional Comum:
O direito constitucional à educação é concretizado, primeiramente, com
uma trajetória regular do estudante, isto é, acesso das crianças e jovens
a uma escola de educação básica na idade legal, depois sua permanência
nessa escola, seguida da conclusão das diferentes etapas em que o
ensino é organizado, também nas idades esperadas. Concomitantemente
os estudantes devem ainda adquirir os aprendizados de que necessitam
para uma vida plena, o que inclui seu desenvolvimento socioemocional e a
efetiva inserção na sociedade do conhecimento.
As condições que deve ter uma escola para que possa desempenhar seu
papel na garantia do direito à educação de seus estudantes são de três
naturezas: infraestrutura, pessoal e pedagógica. O sistema de ensino
básico brasileiro tem grandes dificuldades nessas dimensões e, portanto,
a solução dos graves problemas educacionais nacionais exige ações
concomitantes nas três dimensões referidas, ainda que com ritmos e
ênfases apropriados à história e especificidade de cada sistema de ensino.
São bastante conhecidas as dificuldades relativas aos professores, seja
pela sua falta, pela insatisfação gerada pelos salários e desprestígio
da carreira, ou por sua formação inadequada. Ainda que com menor
visibilidade, são relevantes as dificuldades em relação aos gestores
escolares que também têm pouca formação para a função e,
principalmente, não dispõem de autonomia e recursos para garantir o
funcionamento regular da escola sob sua responsabilidade. Por outro
lado, estudos recentes mostraram que há limitações significativas na
infraestrutura das escolas em muitos lugares do Brasil.
As dificuldades nas dimensões da gestão e da infraestrutura das escolas
são tão agudas e evidentes que encobrem o terceiro elemento relativo à
organização do ensino que é, portanto, de natureza pedagógica. O projeto
pedagógico de uma escola contém as intenções, princípios e orientações
que devem reger o ensino e as muitas interações que ocorrem no seu
âmbito. O projeto pedagógico da escola traduz seu currículo, uma vez que
inclui o que se deve ensinar, como será ensinado e como será verificado
se os alunos aprenderam o que lhes foi ensinado. Inclui ainda como
precisa ser feita a gestão da escola, a relação com a comunidade e o uso e
prestação de contas dos recursos financeiros alocados à escola. Entendido
dessa maneira, o projeto pedagógico não é algo pronto e acabado, mas que
se revisa constantemente com a participação ativa, particularmente dos
professores e funcionários bem como de membros da comunidade servida
pela escola.
Fixado o conceito de projeto pedagógico e sua relação com o currículo da
escola, é importante ainda destacar que uma parte fundante do documento é aquela que descreve os aprendizados que serão oportunizados pela
escola em cada fase escolar.
O projeto pedagógico é próprio de cada escola ou de um grupo de escolas
similares, por exemplo, dentro de um mesmo sistema de ensino. Há
especificidades locais e regionais que só nele podem ser contempladas. No
entanto, os currículos de todas as escolas, sejam elas quais forem, naquilo
que se refere ao que deve ser ensinado, precisam ter uma Base Nacional
Comum, como expressamente exigido pela Constituição Federal no artigo
210 que diz “Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental,
de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais, ou como definido na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB), que em seu artigo
26 explicita que “Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental
e do ensino médio devem ter Base Nacional Comum, a ser complementada,
em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela
Lei nº 12.796, de 2013)”. A Constituição Federal de 1988 explicitou o projeto da nação brasileira e
delegou para a futura promulgação de uma lei, a forma como o sistema
educacional deve contribuir para este projeto. Muitas discussões e
iniciativas já ocorreram para atribuir um sentido mais específico à genérica
prescrição constitucional e, portanto, adequado para o planejamento
pedagógico.
Diversos dos consensos obtidos foram contemplados na LDB. O Ministério
da Educação criou orientações curriculares e parâmetros curriculares
nacionais. O Conselho Nacional de Educação traçou diretrizes nacionais
para educação básica. Diversos estados e municípios da Federação
desenvolveram e implantaram propostas curriculares locais. Ou seja, há um
histórico rico de discussões e iniciativas a ser considerado na construção
de orientações claras, de altas expectativas e que deverão se aplicar às
escolas de educação básica a respeito do que todos e cada um dos alunos
brasileiros precisam necessariamente aprender em cada etapa da sua
escolarização básica.
No entanto não existe um consenso nacional do que é exatamente a Base
Nacional Comum a que se referem à Constituição federal e à LDB de 1996.
Em particular, não há uma lei federal que defina a Base Nacional Comum
referida nesses documentos. Esta ausência tem consequências. Uma das
mais invisíveis, mas das mais graves, é que muito estudantes não adquirem
conhecimentos e habilidades que todo brasileiro tem direito a adquirir. Isso
é uma das causas das grandes desigualdades educacionais existentes no
Brasil.
A ausência desta base enseja também que as avaliações externas como a
Prova Brasil assumam de fato um papel de prescrição da base curricular
nacional, quando o contrário deveria ocorrer – a Prova Brasil deveria ser
a forma de a sociedade verificar se os estudantes tiveram, de fato, seus
direitos de aprendizagem garantidos. A ausência de uma linguagem
curricular comum, em particular de orientações legais explícitas a respeito
do que os alunos precisam aprender em cada fase da escola, também
dificulta a produção e organização de materiais didáticos e a formação
inicial e continuada de professores.A construção da Base Nacional Comum é fundamental porque respeita
a orientação do artigo 205 da Constituição Brasileira que estabelece
como objetivo da educação “o pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”,
ou seja, explicita os objetivos de duas naturezas usualmente referidas
como cognitivos e não cognitivos, que os alunos devem alcançar em sua
escolaridade básica, etapa por etapa.
Na parte cognitiva as resoluções vigentes definem as áreas do
conhecimento que devem ser contempladas no currículo escolar. No
entanto, é importante que estes conhecimentos disciplinares sejam
ensinados de forma que sua utilidade para a vida de cada estudante
fique evidente, pois é este o espírito do texto constitucional e da própria
LDB. Assim sendo é usual dizer que a base comum se constituirá de
conhecimentos e habilidades. Este segundo conceito enfatiza que o
conhecimento deve ser incorporado, entendido e usado na análise de
situações da vida real. Isto é, a Base Nacional Comum é pensada como
um conjunto de objetivos de aprendizagem em que cada conhecimento
disciplinar se associa a situações que exigem processos mentais de
lembrar, compreender, analisar e aplicar.
A experiência internacional mostra que uma Base Nacional Comum vale
para todo território nacional e inclui a especificação das competências em
Linguagens e códigos, especialmente Língua Materna, Literatura Nacional,
Arte, Educação Física; Matemática; Ciências da Natureza, visando a
compreensão do mundo físico e natural e; das Ciências Sociais e Humanas,
onde se inclui a História e Geografia, especialmente do país. Embora a
inclusão destas quatro áreas seja consensual, há na legislação brasileira
outras exigências cuja inclusão na Base Nacional Comum é objeto de
debate.
Em um segundo momento, a Base Nacional Comum precisa considerar
as muitas habilidades não cognitivas que já se demonstraram também
importantes para a vida. Habilidades como responsabilidade, disciplina,
abertura a novas experiências, capacidade de trabalhar em grupos,
respeito às diferenças, capacidade de enfrentar e resolver problemas
podem ser adquiridas na escola e, portanto, fazer parte do currículo e da
Base Nacional Comum se o debate assim o indicar. É importante registrar
que, embora nada do que é necessário para a vida dos estudantes deve ser
estranho à escola, ela não pode se ocupar de todas as capacidades que os
estudantes precisam. Outras instâncias interferem também na formação
da visão de mundo e dos valores de cada criança ou jovem. Definido o que é a Base Nacional Comum, alguns pontos precisam de
esclarecimento e ênfase.
O primeiro passo na sua construção é a crença em que a educação de
qualidade é não só um direito humano, mas também o fundamento de
um projeto maior, qual seja, de desenvolvimento do país. A Base Nacional
Comum deve necessariamente ser apoiada por amplo espectro de agentes
públicos e privados. Este documento deve ser mais explícito do que está
estabelecido atualmente nos textos nacionais legais vigentes que são
por vezes genéricos, e promover o debate para o estabelecimento do
que, dentro de cada área, deve ser aprendido por todos os brasileiros que
concluírem a educação básica.
O documento final da Base Nacional Comum só terá impacto se resultar de
um pacto suprapartidário, gerando uma política de Estado, não de governo,
implementado no sentido proposto no artigo 26 da LDB, supra referido, e com força de lei. Ou seja, o desafio que se coloca é envolver os diferentes
atores educacionais do cenário nacional, mas com uma visão de futuro que
permita a superação de divergências naturais que ocorrem no curto prazo.
Se construído com esta visão, será aprovado nos fóruns adequados.
Para o desenvolvimento do documento deve-se levar em consideração
tanto as experiências sólidas já desenvolvidas no Brasil, no âmbito de
alguns estados e municípios, quanto de outros países que recentemente
enfrentaram o mesmo desafio. De forma particular citam-se como
relevantes as experiências de: Austrália, Inglaterra, Cuba, Chile,
Portugal e Estados Unidos, que usaram diferentes estilos e métodos de
desenvolvimento, muitos com claros ensinamentos para o Brasil.
A metodologia de construção a ser liderada pelo MEC enfatiza a
colaboração entre os entes federados, na perspectiva de que diferentes
sistemas têm responsabilidades distintas, mas todos devem conter uma
parte comum do currículo que é a Base Nacional Comum, que garantirá
equidade no sistema educacional e a materialização do direito à educação.
Além disso, a sociedade em geral, por meio de suas várias organizações,
será ouvida, pois terá muito a dizer no debate a respeito da qualidade
daquilo que é ensinado nas escolas do país. No entanto, o processo só
chegará a bom termo se metas e prazos forem estabelecidos.
Importante ressaltar que o documento da Base Nacional Comum não
deverá incluir detalhamento de como cada objetivo de aprendizagem deve
ser ensinado. Nesse aspecto é importante reconhecer que há necessidades
específicas, geradas pelo perfil do aluno atendido, história da comunidade
ou mesmo opção pedagógico-epistemológica das equipes locais, que
impactam e caracterizam a pedagogia a ser usada em cada escola. Faz-se importante ressaltar que a iniciativa de estabelecer uma Base
Nacional Comum não se propõe ou confunde com a criação de um
currículo nacional comum, embora seja, naturalmente, parte do currículo
das escolas. No entanto, sua adoção teria como consequência que os
currículos de todas as escolas terão similaridades no que diz respeito às
aprendizagens esperadas em cada fase escolar em âmbito nacional.
Os objetivos de aprendizagem incluídos na Base Nacional Comum
devem ser claros e exigentes. A questão da exigência é particularmente
importante. O Brasil não pode oferecer a suas crianças e jovens
oportunidades educacionais mais limitadas do que a oferecida por outros
países.
A definição da referida base criará uma linguagem de expressão dos fatos
pedagógicos que precisa ser também parte inegociável do currículo dos
cursos de formação inicial e continuada dos professores de educação
básica, da preparação de estratégias pedagógicas, de materiais de apoio ao
ensino, da organização de atividades didáticas, livros e até da organização
de sítios na Internet, onde o desenvolvimento de tecnologias de ensino
possa ser compartilhado. Finalmente, da Base Nacional Comum emanará a
matriz de especificação das avaliações nacionais.
Está feita a proposta. Trata-se de uma aposta otimista cuja finalidade é
colocar o país no rumo de uma educação de qualidade para todas as suas
crianças e jovens.
Para definir os objetivos da aprendizagem na educação pública, o ministério da Educação apresentou na última semana a proposta preliminar para discussão da Base Nacional Comum Curricular de ensino. O documento vai reformular e determinar o currículo mínimo para todos os alunos das escolas de educação básica do Brasil.
Por isso, entre 25 de setembro e 15 de dezembro, o governo irá receber contribuições para este novo currículo, já disponível para consulta pública. A proposta final deverá ser entregue até abril ao Conselho Nacional de Educação.
A proposta foi desenvolvida por determinação do Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece metas, diretrizes e estratégias para a educação brasileira. A ideia, segundo o secretário de Educação Básica do MEC, Manuel Palácios, é "que sejam especificados, por ano e por componente curricular, os objetivos de aprendizagem do governo federal”.
Na prática, a Base Nacional apresenta os conteúdos mínimos a serem vistos em sala de aula para as áreas de linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas em cada etapa escolar do estudante.
Segundo o documento preliminar, o currículo terá 60% de conteúdos comuns para a Educação Básica do ensino público e do privado. Os 40% restantes serão determinados regionalmente, considerando as escolhas de cada sistema educacional.
Todo início do ano, ao definir o que ensinar, a professora de Ciências Dayana de Souza, da EM Vereador Edemundo Pereira de Sá Carvalho, em Araruama, a 108 quilômetros do Rio de Janeiro, recorre ao currículo da rede. Diante da mesma situação, José Iolanilson, docente de Geografia da EMEF Padre Inácio, em Boqueirão, a 146 quilômetros de João Pessoa, conta com o livro didático e o apoio da coordenação pedagógica. Já Luciana Balieiro, que leciona para a pré-escola na CMEI Humberto de Alencar Castelo Branco, em Manaus, faz um diagnóstico da turma e planeja as atividades seguindo a tradição da escola.
A definição de quais conteúdos ensinar e do que é desejado que os estudantes saibam é influenciada por diferentes referências. Buscando solucionar a questão, o Ministério da Educação (MEC) convocou pesquisadores, formadores de professores e representantes de associações como a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). O grupo vem se reunindo periodicamente para criar a base nacional comum dos currículos, um descritivo de conteúdos e saberes necessários para cada ano e segmento da Educação Básica (leia no quadro abaixo exemplos de três outros países que criaram currículos nacionais).
O próximo passo será a apresentação de uma versão do documento aos secretários de Educação, que o levarão aos professores da sua rede para que seja discutido. "Queremos determinar direitos de aprendizagem e desenvolvimento. A proposta valerá para escolas públicas e particulares", afirma Maria Beatriz Luce, secretária de Educação Básica do MEC. "Estamos pensando qual Educação queremos e que cidadão vamos formar." O debate sobre um currículo nacional é antigo. De um lado, estão os defensores de referências que garantam ao alunado de qualquer cidade ser apresentado aos conteúdos essenciais ao desenvolvimento educacional do país - fundamental à equidade no ensino. Do outro, quem crê na impossibilidade da proposta, dadas as dimensões continentais do nosso território e sua variedade cultural. O argumento é facilmente derrubado, pois a ideia é que cada rede acrescente a ela pontos relacionados à realidade local.
Com a base comum se cumprirá a meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE) - fomentar a qualidade da Educação Básica, do fluxo escolar e da aprendizagem. A lei determina que até junho de 2016 ela seja encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Os professores, segundo o MEC, poderão opinar por meio de uma plataforma digital, ainda não disponível.
O documento será apenas o primeiro nível de concretização do currículo, que se completa após o trabalho das redes estaduais ou municipais e, posteriormente, de cada escola, com o projeto político-pedagógico (PPP). José Gimeno Sacristán, da Universidade de Valência, na Espanha, aponta no livro Saberes e Incertezas sobre o Currículo (542 págs., Ed. Penso, tel. 0800-703-3444, 72 reais) que as indicações governamentais não constituem por si sós o que vai ser ensinado nas salas de aula. "O currículo deixa de ser um plano proposto quando é interpretado e adotado pelos professores." Por isso, conhecer a proposta é fundamental para que você compreenda o que pode mudar na sua vida profissional e se posicionar.
Currículos pelo mundo
Estados Unidos
- Início 2008.
- Quem fez Um grupo privado de educadores, gestores e especialistas ligados à Educação.
- Especificidades Foca no que ensinar e define padrões para as competências que os alunos devem ter em Língua e Matemática. Se baseia nos elementos comuns entre as unidades da federação.
Austrália
- Início 2008.
- Quem fez Uma instituição autônoma, com a ajuda dos melhores especialistas em cada disciplina.
- Especificidades É baseado em boas práticas nacionais e internacionais e corresponde a 80% dos conteúdos (o restante cabe às escolas).
Argentina
- Início 2004.
- Quem fez Políticos, professores e técnicos.
- Especificidades Define os conteúdos que devem fundamentar os currículos de todas as escolas. Os chamados Núcleos de Aprendizagens Prioritários (NAP) pautam a formação docente e a criação de material didático.
Professores e especialistas identificam problemas no currículo escolar proposto. Principais alvos são conteúdos de história e língua portuguesa.
A proposta que prevê a reformulação do currículo de todas as escolas brasileiras de educação básica está alimentando uma polêmica entre pais, professores e especialistas. Ainda em fase de elaboração, a Base Nacional Comum Curricular (BNC) deve padronizar 60% dos conteúdos a serem apresentados aos alunos dos ensinos Fundamental e Médio, ano a ano — os outros 40% serão definidos pelas próprias instituições e redes de ensino, contemplando particularidades regionais. Inédita no país, a iniciativa deverá impactar também a confecção de livros didáticos, mecanismos de avaliação como a Prova Brasil e até os cursos de licenciatura. O processo, capitaneado pelo Ministério da Educação (MEC), envolve colaboradores de todos os Estados e permite a participação da sociedade pela internet.
Entidades reclamam de falta de tempo para definir currículo nacional de educação
Disponível para consulta pública no site basenacionalcomum.mec.gov.br, o texto preliminar foi elaborado por uma equipe de 116 especialistas de 35 universidades. Entre as maiores controvérsias está a listagem de tópicos previstos em história, sobretudo ao longo das três séries do Ensino Médio. Para os críticos dessa proposição inicial, a disciplina privilegiaria a história do Brasil, das Américas e da África, restringindo expressivamente a abordagem de temas como a Antiguidade Clássica e a Idade Média, por exemplo. Para a professora de história Carine Bajerski, do Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, a BNC peca ao tentar combater o eurocentrismo que sempre marcou a historiografia.
— A base está muito focada em civilizações africanas, nos ameríndios. Deixaríamos de ver toda a parte da formação da civilização ocidental da qual fazemos parte. O primeiro ano está muito carregado de África e América, ficou pouco espaço para a formação das civilizações antigas e o medievo — aponta a docente. — Precisamos entender a história como algo completo, global. Se foco só em América, só em África, como faço o aluno do mundo globalizado entender a atualidade? — questiona.
Objetivo seria elencar prioridades
Um dos especialistas convidados pelo MEC para a preparação da BNC, Mauro Cezar Coelho, professor associado da Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que um dos objetivos do novo currículo é elencar prioridades dentro da vastidão compreendida pela história da humanidade. Com apenas dois ou três períodos semanais dedicados à matéria, as escolas não conseguem, segundo o historiador, dar conta de uma ementa tão longa. A ideia surgida no grupo de debates é dar mais destaque ao Brasil e, ao mesmo tempo, capacitar os estudantes para adquirir autonomia e construir suas próprias trajetórias de aprendizagem.
— Em nenhum momento pretendemos deixar de fora ou subdimensionar qualquer dos nexos que ligam o Brasil a sua herança ocidental, europeia. Não foi essa a nossa intenção. Nosso objetivo é que o aluno tivesse contato com um conhecimento mais significativo para ele, que fale mais da sua realidade. Para o aluno que está na escola, é importante ter uma discussão mais pormenorizada sobre a conformação da sociedade brasileira — justifica Coelho, salientando que a BNC ainda está sujeita a mudanças, e eventuais carências poderão ser supridas na porção curricular determinada pelos Estados.
Fase de coletas termina em dezembro
Manuel Palácios, secretário de Educação Básica do MEC, também frisa que o documento deverá sofrer alterações — uma segunda versão será confeccionada a partir de 15 de dezembro, quando se encerra a primeira fase de coleta de opiniões online. A previsão é de que o texto final seja encaminhado ao Conselho Nacional de Educação, responsável pela normatização, até junho do ano que vem. O sistema educacional brasileiro teria, a partir daí, um prazo de cerca de três anos para se adaptar às novidades.
— Esse debate é essencial para a gente ter uma boa proposta. Algumas áreas estão mais abertas a controvérsias do que outras. Nem a matemática é pacífica. A história é sempre mais controversa. Pelo portal, as pessoas podem mudar toda a base, se quiserem — afirma Palácios.
O diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, compara o processo de consulta pública atualmente em vigor à formulação de uma prova de vestibular, em que diversas questões são pensadas antes de uma banca — a sociedade, nesta analogia — definir quais serão as escolhidas.
— Os especialistas selecionados pelo MEC apresentaram suas propostas, e agora cabe à população ver o que está faltando, o que não precisa estar ali e o que é preciso mudar. É a nossa vez — afirma Ramos.
Falta de gramática no currículo preocupa pesquisadores
Um currículo de língua portuguesa que pouco contempla a gramática e uma proposta para as aulas de literatura que inclui análise do "internetês" e de textos nas redes sociais também são alvo de contestações. Se, por um lado, especialistas apontam que a base nacional atualiza os conteúdos tratados em aula, trazendo-os à realidade do século 21, por outro, a mudança pode ter impacto no aprendizado dos alunos, deixando de prepará-los adequadamente no uso formal da língua.
Em uma análise ponto a ponto do esboço curricular na área de língua portuguesa, as pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) Paula Louzano e Ilona Becskeházy identificaram que só havia referências à gramática até o 3º ano do Ensino Fundamental — quando se espera ver concluído o processo de alfabetização. Dali em diante, segundo elas, apenas menções indiretas.
O professor William Cereja entende que a BNC não prevê um trabalho contínuo de consolidação da gramática em nenhum momento após a alfabetização. Segundo Cereja, doutor em Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é necessário prever o ensino da gramática normativa para todas as séries e garantir que, independente dos demais conteúdos, o rigor gramatical seja seguido.
— Ninguém está propondo que a norma padrão seja considerada o único uso possível da língua e o único "correto". Contudo, fica difícil você ensinar a norma padrão sem entrar em certos conteúdos básicos. Falta clareza na proposta de gramática — afirma o professor.
Em literatura, que está integrada à disciplina de português na proposta em discussão, autores além da literatura em língua portuguesa — hoje o foco nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio — estão previstos. Em breve, os alunos poderão estudar obras africanas e indígenas. O objetivo é reconhecer "a literatura como lugar de encontro de multiculturalidades".
A REVISTA NOVA ESCOLA LANÇA 14 PERGUNTAS SOBRE A BASE NACIONAL COMUM:
A existência de uma base curricular nacional é suficiente para a melhoria da Educação?
Não. Mas a iniciativa pode ser a espinha dorsal para a criação de outras políticas públicas ligadas à formação e à carreira docentes, às condições de trabalho e de aprendizagem e à infraestrutura. Uma vez definido o que as crianças precisam saber, fica mais fácil estabelecer o necessário para isso acontecer. "Se há uma base comum, é possível determinar seja no sertão ou na cidade, a estrutura para garantir que os alunos aprendam", diz Maria do Pilar Lacerda, diretora da Fundação SM.
Se o país já tem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as Diretrizes Nacionais Curriculares, para que criar um currículo?
Os dois documentos trazem orientações para a escola, mas não têm a mesma função de um currículo nacional. Sobre os PCN, a pesquisadora Paula Louzano, doutora em Política Educacional pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirma que são apenas sugestões. "Eles não explicitam o que o professor tem de ensinar nem o que os alunos têm de aprender." Já as diretrizes foram pensadas para um contexto em que o docente tivesse uma formação que o capacitasse para adaptá-las à sua realidade, o que não ocorreu. "A proposta era avançada, mas, infelizmente, as condições de aplicação foram precárias, com formação docente aligeirada e falta de estrutura nas escolas", conta Carlos Roberto Jamil Cury, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). "Redes e escolas incorporaram as diretrizes a seu modo e não se garantiu que conteúdos essenciais fossem ensinados em todo o país."
O documento influenciará a formação docente?
Sim. A existência de uma base curricular comum serve para que as graduações em Pedagogia, as licenciaturas e a formação continuada usem os direitos de aprendizagem dos alunos como escopo dos seus programas. Os cursos universitários são pouco voltados a situações práticas. Pesquisa da Fundação Victor Civita (FVC) em parceria com a Fundação Carlos Chagas (FCC), de 2008, mostrou que apenas 28% das disciplinas oferecidas se referem aos conteúdos e atividades da sala de aula. A promessa é que a nova referência curricular ajude a mudar esse cenário. "Não adianta dizer o que e como ensinar nas escolas se os professores não estiverem adequadamente preparados. Por isso, faremos a formação deles articulada com a base", declara Maria Beatriz, do MEC.
As avaliações externas mudarão?
Sim. Os exames nacionais deverão usar como matriz os direitos de aprendizagem descritos na base nacional. Atualmente, em escolas de cidades pequenas, em que as equipes pedagógicas não estão aptas a construir propostas curriculares coesas, o processo se inverte. "As avaliações externas surgiram antes de um currículo robusto e, como possuem indicadores sobre o que esperam que os alunos apresentem nas provas, viraram um norteador para a prática docente", diz Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
A base nacional é fixa ou pode mudar?
É importante que seja revista periodicamente, até mesmo para que se mantenha contemporânea. "As tendências e os resultados de pesquisas educacionais devem ser incorporados a ela de maneira dinâmica", indica Célia Carolino, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O ideal é que seja formado um grupo permanente que avalie a implementação da base e analise, de tempos em tempos, o que deu certo, o que precisa mudar e ser acrescentado. Também nessa etapa os professores devem ser convocados a participar. Como lidam com as turmas diariamente, podem indicar em que a referência está funcionando e em que
pode melhorar.
O documento tratará da inclusão de alunos com deficiência?
O tema não está em discussão no MEC e, a princípio, a base não incluirá como adaptar os conteúdos a cada uma das deficiências - o que deve ser alvo de outra ação. É desejado que a inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais (NEE) - tema caro a gestores e educadores que questionam a falta de formação, pessoal especializado e estrutura para cumprir a tarefa - seja uma das políticas públicas de melhoria da Educação a ser impulsionadas pela base comum. "Não basta dizer que o estudante deve aprender certo conteúdo até determinado ano. É preciso oferecer condições para isso acontecer, tanto na estrutura das escolas quanto na formação dos educadores", aponta Maria do Pilar, da SM.
A proposta vai substituir o currículo das redes que já elaboraram o seu?
Não. A intenção é que o documento traga indicativos do que as crianças e os adolescentes devem aprender nas diversas disciplinas ao fim de cada ano e segmento. A base deve ser o pilar das propostas curriculares das redes, que continuarão existindo e contemplando as peculiaridades da região e o que a comunidade da cidade ou do estado considera imprescindível ser ensinado nas escolas. Para Mizne, da Fundação Lemann, a base ditará aproximadamente 60% dos currículos. O restante ficará por conta das secretarias e das unidades escolares. "Se, por exemplo, um estado da Região Sul achar fundamental que determinada série se aprofunde no estudo sobre Anita Garibaldi (1821-1849), poderá fazê-lo."
O documento substituirá o PPP da escola?
Não. Após os direitos de aprendizagem e os conteúdos serem descritos pela equipe do MEC, cada Secretaria de Educação incluirá nele os temas regionais que seus alunos devem saber. Por fim, essa referência chega às escolas e serve de diretriz para o PPP, que será construído respeitando as necessidades e o contexto locais. "Cada escola é uma unidade única. Quem está nela precisa ter liberdade para analisar o caminho mais adequado a tomar", afirma Sônia Penin, professora e especialista em desenvolvimento curricular da Universidade de São Paulo (USP). "A organização da escola e do educador, assim como os materiais didáticos, é o que define o que e como ensinar", completa Cláudia Galian, pesquisadora da USP.
Como ficarão escolas em situação pouco convencional, como as rurais, as bilíngues e as quilombolas?
A medida deverá valer para todas as instituições, inclusive as que estão inseridas em contextos específicos. Isso não significa, porém, que ensinamentos e tradições passados de geração a geração, tão importantes para esses povos, desaparecerão das salas de aula. Nesses casos, as escolas não deixarão de lado os direitos de aprendizagem descritos na base e vão acrescentar a seu PPP o que é característico da comunidade. Vale lembrar que uma das estratégias para atingir a meta 7 do PNE é que os currículos das instituições de ensino do campo ou que atendam comunidades indígenas ou quilombolas incluam os conteúdos culturais correspondentes. O objetivo, com isso, é fortalecer as práticas socioculturais
de cada região.
O uso dos livros didáticos mudará?
O trabalho com eles em sala de aula não muda. O que deve sofrer alterações é a produção dos livros. De modo geral, hoje, eles seguem os PCN e são analisados pelo MEC. A previsão é que passem a ser escritos e avaliados usando a base nacional como referência. Segundo Sacristán, da Universidade de Valéncia, esse é o caminho. Para ele, o livro didático é um dos mediadores entre a referência curricular oficial e a recepção do saber pelos alunos. Somente se adaptado a ela, o material contribui para que os objetivos de aprendizagem sejam atingidos. Com a nova base, a expectativa é corrigir um problema geral no país: "Em muitas redes, principalmente naquelas em piores condições, o material didático pauta o currículo, e não o inverso", explica a pesquisadora Paula.
A existência de uma base nacional comum prejudica a autonomia do educador?
Não. Como política pública, ela visa a igualdade entre todos os estudantes ao definir os mesmos conteúdos e direitos de aprendizagem para o Brasil inteiro, independentemente do contexto em que vivem. Não deve, no entanto, intervir na metodologia de ensino nem em projetos, atividades e sequências didáticas desenvolvidos em sala. Isso continuará a cargo dos educadores. A proposta do governo deve ser lida e analisada por eles, e não ditar como devem trabalhar. "Um bom currículo tem uma linguagem clara e objetiva, fala diretamente com o professor e respeita a experiência que ele traz", afirma a pesquisadora Paula. Por isso, quem está em sala de aula diariamente deve participar da construção da nova referência. Michael Young, da Universidade de Londres, na Inglaterra, acredita que o documento dá liderança aos docentes à medida que permite a interpretação e a adaptação do seu conteúdo. O especialista defende também que os elaboradores do currículo pensem em como o professor pode fazer para que os alunos progridam nos conceitos estudados.
O horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) deve ser incluído na proposta?
Não. O principal foco do documento é o aluno e a garantia do seu direito à aprendizagem. Contudo, o HTPC é uma oportunidade preciosa para que a equipe pedagógica de cada instituição discuta a relação entre a base, a proposta definida pela rede e o PPP. Uma parte da formação necessária para se adequar às novas referências pode, inclusive, ser realizada nesses encontros, dos quais a escola não deve abrir mão. Vale destacar que são os educadores que devem, diante do contexto local, planejar o trabalho para que os objetivos definidos para os estudantes sejam plenamente atingidos. "A discussão sobre documentos oficiais, a análise de materiais curriculares e o planejamento de sequências de atividades com base nos objetivos de aprendizagem são tarefas essenciais na formação docente", analisa Célia, da PUC.
O documento deve conter indicações sobre avaliação?
A intenção do governo é se concentrar nos direitos de aprendizagem de todos os alunos. Sendo assim, a medida deve pautar as avaliações externas, não aquelas que ocorrem periodicamente nas salas de aula. Cabe ao educador a decisão sobre a melhor maneira de verificar a aprendizagem da turma, que está ligada aos objetivos definidos por ele, assim como a metodologia adequada ao ensino de cada um dos conteúdos.
O que muda na vida dos estudantes?
Os defensores do documento afirmam que ele é uma medida de igualdade que repercute diretamente na vida de crianças e adolescentes. "Com a base, será dada coerência ao sistema educacional, pois todos terão uma meta de aprendizagem igual a alcançar em todo o país," analisa Eduardo Deschamps, secretário de Educação de Santa Catarina. Dessa forma, se o estudante for morar em outra cidade, for transferido da rede pública para a particular ou simplesmente trocar de escola, a continuidade dos conteúdos e das expectativas de aprendizagem tende a ser mais organizada.
Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/base-nacional-comum-curricular-curriculo-ppp-mec-812097.shtml?page=1; http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/12/veja-perguntas-e-respostas-sobre-base-nacional-comum-curricular.html; http://movimentopelabase.org.br/o-movimento/; http://movimentopelabase.org.br/wp-content/uploads/2015/09/Necessidade-e-construcao-Base-Nacional-Comum.pdf; http://www.brasil.gov.br/educacao/2015/09/entenda-o-que-muda-com-o-novo-curriculo-do-ensino-publico-brasileiro; http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/educacao/noticia/2015/11/em-fase-de-discussao-base-nacional-comum-curricular-enfrenta-criticas-4914482.html. Acesso em: 10/03/2016.
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