sexta-feira, 29 de abril de 2016

OS BONS E OS MAUS ENCONTROS EM DELEUZE E SPINOZA


Deleuze privilegia em Espinosa uma questão ontológica, gnoseológica e uma questão ética.
Ele se interessa muito pela ética.
Na primeira parte da ÉTICA de Espinosa há uma abordagem sobre a ontologia de Deus. Na segunda parte, ele aborda sobre a teoria do conhecimento. Na terceira parte o foco é a ética.
O objetivo final da filosofia de Espinosa converge para uma ética.
O que é uma ética da potência?
Só se pode entender a ética de Espinosa com a teoria do conhecimento.
Na teoria do conhecimento privilegia-se o conceito de idéia. Na ética de Espinosa, privilegia-se o afeto.
Espinosa defende vários tipos de idéias:
Primeiro tipo: Idéia afecção. Observe o conceito de afecção em Espinosa. Afecção é uma modificação de corpos. É um efeito de um corpo sobre o outro; é uma mistura de corpos; um corpo age sobre o outro e o que recebe, recebe as características do primeiro corpo (idéia de causa-efeito).
Disse Espinosa: “Vejo o solo a 200 pés de distância como uma superfície chata”.
No primeiro nível é necessário o conhecimento dos efeitos. 
Segundo Deleuze, nós não somos racionais, mas podemos nos tornar racionais (Deleuze contrapondo Descartes e o positivismo).
Nós somos idéias vindo de outros corpos.
As idéias de afecção só conhecem as coisas por seus efeitos sem conhecer as próprias causas.
Idéias afecções são representações dos efeitos sem causas.
Idéias inadequadas são conclusões sem premissas.
Deleuze aborda o tema do encontro dos corpos. Deleuze vai enaltecer Espinosa por ter sido o primeiro a valorizar o corpo.
Em Platão há a valorização da alma em detrimento do corpo.
Espinosa considera corpo e alma no mesmo nível. Para ele, no homem o corpo corresponde à extensão de Deus. Deus é a natureza. Deus é a substância e nós somos modos dessa substância. 
Na relação entre teoria do conhecimento e ética há o encontro fortuito, encontro carnal, proveniente do acaso.
Enquanto tivermos idéias de afecções, isto é, idéias inadequadas, viveremos ao acaso dos encontros. 
Algumas pessoas não conseguem organizar os encontros.
Para Espinosa não existe bem e mal. O que existe é o bom e o mau. O bom está relacionado aos bons encontros e o mau, está atrelado aos maus encontros.
Deleuze valoriza em Espinosa uma ética da singularidade.
Há relações características em meu corpo e quando interagimos com outro, as partículas estão em relação. Relação constitui uma determinada característica que determina um corpo.
Bom encontro é a boa relação entre dois corpos. Mau encontro é onde dois corpos se relacionam, entretanto, um dos corpos procura destruir as relações características do outro. O mau para Espinosa, é o mau encontro.
A morte vem de fora (Deleuze valoriza isso em Espinosa). A destruição da individualidade vem de uma mau mistura.
Consultar o livro ESPINOSA: FILOSOFIA PRÁTICA.
Observe o conceito de afeto em Espinosa. Afeto não é afecção, mas corresponde à uma afecção. 
Deleuze faz contraposição entre afetos e sentimentos.
Consultar o livro de Deleuze ESPINOSA E O PROBLEMA DA EXPRESSÃO (livro difícil).
Há uma sinonia entre afetos e sentimentos. Deleuze vai relacionar o afeto à potência. Há uma ética da potência. Espinosa fala em potência de ser e de agir.
Quando eu tenho um bom encontro a minha potência aumenta.
O que é o bom? O que eleva a potência.
O que é o mau? O que diminui e impede o desenvolvimento da potência.
Quando minha potência de existir aumenta, eu sinto alegria.
Alegria e tristeza são sintomas de nosso estado de potência. São indicações de meu estado de potência devido aos encontros. Alegria e tristeza são dois afetos principais.
A esperança é uma mistura de tristeza e alegria.
O afeto não é uma idéia embora suponha uma afecção.
A afecção é representativa, pois representa um corpo. O afeto não é representativo.
Existe uma variação de potência em nosso viver. Nossas vidas é uma sucessão de idéias que nascem de encontros diários.
Há uma força de existir; há uma potência de agir.
Nós produzimos idéias.
Há uma variação contínua da força de agir e existir (isso é o afeto).
Deleuze considera a ÉTICA de Espinosa um dos livros mais positivos da história.
Lacan gosta muito de Espinosa.
Por detrás do Édipo está o desejo. Em Espinosa e vontade potência, Deleuze fala do desejo como produção e do desejo como criação.
A falta é a ilusão da fraqueza (Nietzsche).
Afeto implica em noção de que o corpo ao poder de ser afetado.
O que pode um corpo? Essa é a questão básica da ÉTICA de Espinosa.
Deleuze valoriza uma vida, questão da singularidade.
Na perfeição maior a potência aumenta. Na perfeição menor a potência diminui. Para Espinosa, nós vivemos em estado de perfeição e nada nos falta. Consultar BORGES E O ESTADO DE CEGUEIRA (à um cego não falta nada).
O corpo vai sempre ao máximo que ele pode. Deleuze é um filósofo do limite.
Na perfeição não há uma meta a atingir. Tanto na perfeição maior quanto menor somos perfeitos.
Todo corpo se encontra em estado de perfeição devido às afecções que ele se encontra.
Mesmo com as variações de afecções, o sujeito vai ao máximo da perfeição que ele pode.
Pensa-se bem quando está alegre (Espinosa).
Como é possível essa variação afetiva se o poder de ser afetado pode ser sempre preenchido?
Univocidade é uma mesma palavra usada para conceitos diferentes.
Deus é a substância única e nós somos modos da substância, portanto, estamos na substância.
O bom depende de nosso poder de ser afetado.
Estamos sempre no nível das paixões. Alegria e tristeza são as paixões.
Afetos passivos podem ser alegres ou tristes.
Idéias-noções ou noções comuns são superiores as idéias afecção.
Idéias noções são ações. Idéias afecções são paixões.
Idéias noções, comporta a conveniência das formas, as relações características de dois corpos, isto é, o conhecimento das características do corpo que afeta e o que é afetado.
A natureza da relação gera um determinado efeito.
“Se eu soubesse porque alguém me agrada ou me desagrada, eu teria uma idéia adequada, conheceria pelas causas ao invés de somente pelos efeitos” (Espinosa).
Paixão é o resultado dos efeitos, de idéias inadequadas.
Afeto é o pensamento não representativo. É uma ação fruto de uma idéia adequada.
O conhecimento das essências é o conhecimento igual a Deus.
A eternidade é a intensidade (Espinosa). Perdemos a quantidade e a qualidade na morte, mas jamais a intensidade.
Segundo Deleuze, nos livros IV e V existem uma teoria genética da ética.
Segundo Foucault, a noção de criança surge no século XVIII. Para Espinosa, a criança vive no mundo das paixões. Adão representa a infância da humanidade. Deus colocou uma tabuleta dizendo NÃO COMA porque será um mau encontro. Adão e Eva entraram pelo cano ao desobedecer (atitude típica da curiosidade infantil).
Como ser ativo e racional?
No nível da ação eu estou sempre alegre. Toda ação é alegre.
O homem é livre quando toma posse de sua potência de agir.
CONATOS é uma palavra do que vem do latim e que designa esforço para aumentar a potência (interpretação de Deleuze).
Nietzsche criticou a idéia de CONATOS em Espinosa como sendo instinto de conservação.
A razão permite ao homem organizar os encontros (Deleuze).
Quando somos afetados pela tristeza, nossa potência diminui porque a gente investe tudo para eliminar aquele corpo que não combina com o nosso.
Em GENEALOGIA DA MORAL de Nietzsche, o ser está na ação. Você é o que age.
Como ir além? 
Quando eu sou afetado de alegria, minha potência de ser aumenta. Há uma conveniência de ambos os corpos.
A tristeza impede que se construa uma noção comum entre você e o outro corpo.
A alegria nos impulsiona para fora do estado de variação contínua (Deleuze).
Em geral estamos fazendo a conta das tristezas (Espinosa). TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM de Tom Jobim e Vinícius de Moraes (música de caráter espinosiano).
Investe nas alegrias porque ela pode trazer a causa de uma noção comum. CANTA, CANTA MINHA GENTE, DEIXA A TRISTEZA PRÁ QUE A VIDA VAI MELHORAR (Martinho da Vila).
A gênese tanto da razão quanto da ação nasce das paixões alegres.
A alegria é uma ocasião favorável.
Espinosa e Nietzsche são filósofos da alegria. Nietzsche exalta a alegria apesar dos sofrimentos. Sofrimento não rima com alegria foi a grande jogada de Nietzsche.
Beckett e Kafka escreveram contos para rir.
Alegria é um trampolim que nos impulsiona para um conhecimento adequado.
A gênese da razão e da ação é um aperfeiçoamento das nossas idéias e nossos afetos. Ao término seremos ativos, livres e racionais.
Espinosa escreveu o livro A ÉTICA para dizer que é melhor ser alegre do que ser triste.
(Samba da benção de Vinícius de Moraes e Baden Powell)
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração


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