COMO A CRIANÇA DESENVOLVE A ESCRITA?
A psicogênese da língua escrita entende que a aprendizagem da leitura e da escrita vai além da sala de aula, sendo marcada também por variáveis político-econômicas, pelas interações sociais, pelas experiências culturais. Com base nesse postulado, se dedica a observar processos mentais, analisando e sistematizando os caminhos cognitivos e linguísticos que as crianças seguem na descoberta e na construção do que é a escrita como sistema de representação.
O trabalho de Magda Soares, nos estudos acadêmicos e no Núcleo de Alfabetização e Letramento de Lagoa Santa (MG), parte desses pressupostos e se fundamenta também nas pesquisas das psicolinguistas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Elas mostraram que as crianças exercem um papel ativo no processo de alfabetização na medida em que criam hipóteses para entender o sistema de escrita alfabético. Essas hipóteses apontam para um percurso de aprendizagem que ocorre gradualmente e em uma série de etapas com características específicas.
A sistematização e a compreensão de cada uma das etapas é de extrema importância para o trabalho de alfabetizadores, mas vale destacar aqui que todo esse processo de aprendizagem não é uniforme; ao contrário, trata-se de um percurso dinâmico em que é possível, por exemplo, que uma criança “pule” uma das etapas, ou que transite por mais de uma etapa ao mesmo tempo. Cabe ao educador, portanto, muita sensibilidade para apoiar cada aluno de acordo com suas especificidades e necessidades.
Na fase pré-silábica, as crianças passam por diversas etapas: no início, acreditam que escrever é desenhar (fase icônica) ou tentam imitar a escrita em letra cursiva (garatuja). Aos poucos, vão compreendendo que para escrever utilizam-se letras, e apenas letras. À medida que essa compreensão avança, param de produzir escritas em que se misturam números, letras e ícones.
Nessa fase, além dessa compreensão, as crianças constroem também algumas hipóteses: que não se pode escrever com menos de três letras (exigência mínima de letras); que palavras diferentes se escrevem de forma diferente (variação de letras entre as palavras ou variação interfigural); e que é necessário variar as letras dentro de uma mesma palavra (não repetem a mesma letra, uma após a outra, dentro de uma mesma palavra – chamada de variação intrafigural).
Na fase silábico-alfabética, a criança passa a entender que não basta uma só letra para representar uma sílaba e começa a produzir escritas em que, ora escreve atribuindo uma letra para cada sílaba, ora representa os fonemas. Quando avança para a hipótese alfabética, a criança já entendeu o funcionamento do sistema alfabético de escrita, compreendendo que cada um dos caracteres da palavra corresponde a um valor sonoro menor que a sílaba, faltando, a partir daí, dominar as convenções ortográficas.
Disponível em: http://alfaletrar.org.br/aprendizagem-inicial-da-escrita. Acesso em: 19/05/2020.
Imagem disponível em: http://editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV117_MD1_SA15_ID11105_17092018160912.pdf. Acesso em: 1905/2020.
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