ALFABETIZADORA DE PAPEL
Iole Faviero Trindade
Os quadros-negros representam uma extensão da professora através de uma teia que se estende de parte do seu corpo a toda a altura desses quadriláteros. No primeiro deles, temos uma conta de somar ("2+2=4") escrita no centro do quadro. No segundo, temos as palavras "bola, babá, dedo [e] dado". A escrita - como atividade que envolve inicialmente o domínio perceptivo e fonético da ortografia e de seus padrões regulares de correspondência entre som e letra - é esperada do/a aluno/a em um determinado momento do processo de aquisição da língua escrita e está presente nessa aula e na representação das "expectativas" da personagem professora que, tendo outras especializações/alfabetismos, não poderia esperar por um aluno lento.
Seus colegas já liam
e escreviam e
Lilito ainda nem sabia
a diferença entre b e d!
Escrevia dola quando
era bola e bebo
quando era dedo!
Dona Aranha não podia mais esperar, para não atrasar
a sala e Lilito foi ficando para trás... para trás...
Demorava para ler, deborava [sic] para
copiar, demorava para entender!
A desejada homogeneização da turma que acompanha o uso desses "antigos" métodos de alfabetização desobriga a alfabetizadora de atender aos/às alunos/as com competências diversas das esperadas em um período específico do ano letivo. A personagem professora, "desesperada", consegue, por fim, mandar o caracol para uma outra sala de lesmas e tartarugas: "a sala dos pamonhas".
Disponível em: SILVEIRA, Rosa Maria Hessel. Professoras que as histórias nos contam. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
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