sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 MAPA DO ANALFABETISMO NO BRASIL



A distribuição das pessoas que não sabem ler e escrever pelas diversas regiões do País mostra que existe uma elevada concentração desta população nas grandes cidades brasileiras. Em 125 municípios, de um total de 5.507, estão 25% dos analfabetos do País, e 586 cidades respondem pela metade dos analfabetos da população com 15 anos ou mais, segundo dados de 2000.

Entre os cem municípios com maior número de analfabetos estão 24 capitais. A cidade de São Paulo apresenta o maior número de pessoas que não sabem ler e escrever: 383 mil. Em seguida está o Rio de Janeiro, com 199 mil.

Estas informações estão no “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, estudo produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, que traça um panorama da situação educacional de todos os municípios brasileiros. A publicação reúne indicadores produzidos em 2000 pelo IBGE, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Inep.

O Brasil possui cerca de 16 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais e 30 milhões de analfabetos funcionais, conceito que define as pessoas com menos de quatro anos de estudo. Além de apresentar e analisar estes dados gerais, o estudo detalha a situação do analfabetismo, apresentando informações por faixa etária, gênero, raça, localização (rural e urbana) e renda domiciliar.

Também estão disponíveis a taxa de analfabetismo funcional, o número médio de séries concluídas pela população e a freqüência à escola, assim como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Essas informações são complementadas com o número de alunos matriculados em cada nível de ensino e o número de docentes e de estabelecimentos.

O objetivo da publicação é colocar informações à disposição de todas as instâncias administrativas, para subsidiar a formulação das políticas para a área e ampliar a reflexão sobre o tema. A análise das informações disponíveis mostra, por exemplo, que 35% dos analfabetos já freqüentaram a escola, segundo dados do IBGE de 2001.

Em face desta situação, o estudo destaca que “o mais preocupante é que, a despeito dos avanços conquistados, ainda observamos o baixo desempenho dos sistemas de ensino, caracterizado pelas baixas taxas de sucesso escolar, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade”.

As informações do “Mapa do Analfabetismo” serão enviadas às secretarias estaduais de educação e secretarias municipais das capitais de estado. 

A análise do grau de escolarização da população, ou seja, o número médio de séries concluídas, mostra que em apenas 19 cidades brasileiras a população possui um índice que corresponde às oito séries do ensino fundamental. Em outros 1.796 municípios do País a escolarização média da população é inferior a quatro séries concluídas, o que não é suficiente para o término do primeiro ciclo do ensino fundamental.

A partir destes dados, o estudo mostra que existe uma forte correlação entre o grau de instrução e a taxa de analfabetismo. Em Niterói (RJ), cuja população possui o maior número médio de séries concluídas do País, de 9,5 anos, a taxa de analfabetismo é de 3,6%.

No outro extremo está a cidade de Guaribas (PI), na qual a população tem, em média, apenas 1,1 série concluída. No município, a taxa de analfabetismo é de 59%, e o analfabetismo funcional alcança quase 93% da população.

As diferenças regionais ficam evidentes quando se leva em conta o grau de instrução da população. Todos os dez municípios com melhores indicadores estão nas Regiões Sul e Sudeste, e as dez cidades com o menor número médio de séries concluídas estão nas Regiões Norte e Nordeste.

As taxas de analfabetismo estão diretamente relacionadas à renda familiar, segundo os dados apresentados pelo “Mapa do Analfabetismo”. Nos domicílios que possuem renda superior a 10 salários mínimos, o índice é de apenas 1,4%, enquanto nas famílias que possuem renda inferior a um salário mínimo o índice alcança 29%.

Na Região Nordeste o contraste é ainda maior. Nos domicílios com renda até um salário mínimo o índice é de cerca de 37%, e nas famílias com renda acima de 10 salários mínimos o analfabetismo é de 1,8% da população de 15 anos ou mais.

Faixas etárias – O analfabetismo atinge pessoas de todas as faixas etárias, com intensidades diferentes. Na faixa de 10 a 19 anos, 7,4% da população é de analfabetos. “Enquanto os analfabetos nas faixas etárias mais avançadas foram criados pelo sistema educacional de décadas atrás, os analfabetos mais jovens deveriam ter sido alfabetizados ao longo dos últimos anos, mostrando assim a atual situação do ensino fundamental em nosso País”, afirma Otaviano Helene, presidente do Inep.

A maior concentração de analfabetos está na população de 60 anos ou mais, onde 34% das pessoas não sabem ler e escrever. O relatório defende estratégias específicas voltadas para cada segmento etário. “O que os trabalhos na área mostram é que os alunos recém-alfabetizados devem ser imediatamente encaminhados para o ensino regular, para evitar uma das características mais comuns em programas de alfabetização em massa: o retorno à condição de analfabeto em curto prazo de tempo.”

Localização – No meio rural brasileiro, a taxa de analfabetismo é três vezes superior à da população urbana: 28,7% e 9,5%, respectivamente. Os contrastes regionais são bastante acentuados, quando se compara a situação no campo. No Nordeste, o índice é de 40,7%, alcançando 49,2% no Estado do Piauí. A melhor situação está na Região Sul, com 11,9% de analfabetos na área rural. “Apesar de, em números absolutos, o número de pessoas iletradas no campo ser inferior ao das cidades, as taxas indicam uma situação grave que necessita de uma política específica”, afirma José Marcelino de Rezende Pinto, diretor de Tratamento e Disseminação de Informações Educacionais do Inep .

O Brasil possui cerca de 49 mil professores atuando no primeiro ciclo do ensino fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), cerca de 800 mil no primeiro ciclo do Ensino Fundamental Regular e mais de 700 mil no segundo ciclo do Ensino Fundamental Regular.

Segundo o estudo, um programa de alfabetização que trabalhasse com um ciclo semestral – prazo em que alfabetizaria e deixaria o educando atendido em condições de reingressar nos sistemas de ensino – e que tivesse por meta erradicar o analfabetismo em quatro anos exigiria cerca de 200 mil alfabetizadores. “Trata-se um número, embora avantajado, absolutamente realista, em especial considerando que as matrículas de 1ª a 4ª série no Ensino Fundamental estão em queda no país, liberando salas e docentes.”

Ao considerar a erradicação do analfabetismo como meta factível, os autores lembram a necessidade de um grande esforço nacional, a exemplo do que ocorreu em outros países. Uma ressalva, no entanto, é feita no que diz respeito à qualidade dos programas voltados à alfabetização de jovens e adultos e nas várias tentativas já realizadas no País. “O que faltou muitas vezes foram programas de qualidade, claramente delineados para seus diferentes perfis, e com o nível de profissionalização que se espera de qualquer atividade. Nesta área, improvisação geralmente redunda em fracasso”, finaliza.

Disponível em: http://inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/estudo-detalha-situacao-do-analfabetismo-no-pais/21206. Acesso em: 19 fev. 2021.

Imagem disponível no Google Imagens.



sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 ROTINA NA ALFABETIZAÇÃO


Rotina é uma sequência de ações que situa o sujeito no tempo, propiciando-lhe uma referência e uma organização. Ao planejar e organizar rotinas em turmas de alfabetização, é necessário ter em mente os objetivos e as habilidades que se pretende atingir, levando em conta os sujeitos envolvidos e os contextos de ensino e aprendizagem. A definição das atividades – o que fazer, como e com que frequência – pode ser estabelecida a partir do diálogo entre professores e alunos, e ser revista sempre que necessário, garantindo que todos conheçam as atividades e se apropriem da dinâmica do trabalho, participando ativamente de cada proposta.

Ao contrário de monotonia e simples repetição, a rotina supõe dinamismo e precisa ser construída a partir de dois aspectos fundamentais: (a) ser variada, isto é, possibilitar aos alunos experiências diversificadas de trabalho, criando várias oportunidades de aprendizagem e ampliação de habilidades, conhecimentos e contextos de aplicação; (b) ser sistemática e bem estruturada, ou seja, possibilitar a presença frequente e previsível de certas atividades, consolidando habilidades e experiências dos alunos. Assim, as rotinas possibilitam às crianças a compreensão da noção de tempo, conduzem a certa regularidade de suas ações e lhes permitem perceber a escola e a sala de aula como espaços em que as atividades podem ser planejadas, previsíveis e autocontroladas, com maior ou menor grau de autonomia.

O início das atividades diárias em sala de aula com a construção ou retomada da rotina possibilita que os participantes se situem quanto à dinâmica, aos intervalos e ao horário de saída, e visualizem a distribuição do tempo, com a previsão de duração de cada uma das ações propostas. Esses tempos devem ser avaliados e ajustados no desenvolvimento das atividades, tendo em vista a necessidade de cumprir uma proposta previamente organizada, e de se considerar o ritmo e o envolvimento da turma.

A construção da rotina, portanto, organiza o trabalho cotidiano e favorece que a sala de aula seja um espaço dinâmico, com diversidade e sistematização de: (a) atividades que contemplem os diferentes eixos de ensino (leitura, produção escrita, apropriação do sistema de escrita alfabética, conhecimentos linguísticos e oralidade); (b) formas de organizar a turma (individualmente, em duplas e em grupos); (c) oportunidades de leitura e de audição de textos pertencentes a diferentes gêneros e tipos textuais; (d) condições para que os alunos possam produzir textos de diferentes gêneros e tipos textuais, para diferentes interlocutores.

Além disso, as rotinas propiciam uma ampliação de tempos, para que as crianças frequentem a biblioteca, participem de rodas de conversa e de contação de histórias, dentre outras atividades. Assim, seu planejamento e execução devem contemplar tanto atividades permanentes quanto sequências didáticas e projetos a serem desenvolvidos em determinado período de tempo.


Referências bibliográficas:
CASTANHEIRA, M. L.; MACIEL, F.; MARTINS, R. (Orgs.). Alfabetização e letramento na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica/Ceale, 2008.
FERREIRA, A.; ROSA, E. O fazer cotidiano na sala de aula: a organização do trabalho pedagógico no ensino da língua materna. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.


Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/rotinas-na-alfabetizacao

Acesso em: 11/12/2020.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

 HISTÓRIA DO ALFABETO:




origem do alfabeto carrega o legado de diferentes culturas, mas acredita-se que sua história tenha iniciado na Antiguidade com a civilização egípcia. O surgimento do primeiro alfabeto consonantal aconteceu cerca volta de 2000 a. C., mais de um milênio após a início da história da escrita. 

À essa época duas formas de escrita já eram conhecidas na Antiguidade: a escrita cuneiforme dos mesopotâmicos e os hieróglifos dos egípcios. Ambas eram bem conhecidas, sobretudo, na região do Oriente Médio, onde surgiu o primeiro alfabeto a ser usado em grande escala: o alfabeto fenício

Antes do alfabeto fenício, houve o primeiro alfabeto consonantal, Influenciado pelos princípios alfabéticos egípcios. O primeiro alfabeto representava o idioma dos trabalhadores semitas, povos que já viviam nas proximidades do Antigo Egito há cerca de 5,5 mil anos.

Atualmente, a maior parte dos alfabetos existentes no mundo surgiram a partir do desenvolvimento do alfabeto consonantal ou foi inspirado nele. Os alfabetos têm caráter abstratos, o que facilita a sua adaptação para qualquer tipo de idioma. 

O alfabeto mais utilizado no mundo é o alfabeto latino, quem vem da origem do alfabeto grego, que por sua vez, é considerado o primeiro alfabeto real por indicar de maneira consistente tanto letras consoantes quanto vogais.

O alfabeto


O alfabeto é um conjunto de sinais gráficos, conhecidos como letras, que juntas podem formar uma série de palavras. Os sinais gráficos representam os sons que são chamados de fonema, que dão origem às palavras.

O termo alfabeto vem do grego alpha+beta, que representam as duas primeiras letras do alfabeto grego. O sistema de sinais possui diversas variações e cada povo ou civilização pode criar ou adaptar o seu para ser utilizados como uma forma de comunicação.

Alfabeto da língua portuguesa


O alfabeto da língua portuguesa é composto por 26 letras, das quais três delas são usadas em casos especiais. A origem do alfabeto da língua portuguesa vem do alfabeto latino, também chamado alfabeto romano. 

Ele se divide em duas partes: vogais e consoantes. As vogais são as letras: A, E, I, O, U; e as consoantes são: B, C, D, F, G, H, J, L, M, N, P, Q, R, S, T, V, X, Z. Além delas, existem as letras: K, Y, W, que são usadas para escrever nomes próprios e estrangeirismos.

O alfabeto da língua portuguesa é escrito de forma ordenada, onde as letras respeitam uma sequência e pode ser escrito com letras maiúsculas e minúsculas. Ele é adotado em todos os países de língua portuguesa, incluindo o Brasil.

Origem do alfabeto: os primeiros símbolos


A origem do alfabeto tem início com o surgimento dos primeiros símbolos, durante a Idade Antiga, tais como a escrita cuneiforme da civilização mesopotâmica e os hieróglifos dos egípcios. Os símbolos consistiam em ideogramas e pictogramas, formado por desenhos representativos de objetos.

Utilizados para facilitar o entendimento em diferentes idiomas, com o passar do tempo e o aumento de símbolos, a representação ficou mais complexa. Desse modo, fez-se necessário a criação de um modelo que permitisse a formação de palavras.

Assim, os primeiros símbolos foram desenvolvidos com base na escrita egípcia utilizada por cerca de 3 mil anos – os hieróglifos. Já o primeiro alfabeto foi elaborado a partir de formas gráficas e desenhos, baseado na escrita cuneiforme.


Alfabeto fenício deu origem aos alfabetos da atualidade. (Foto: Wikipedia)

Principais alfabetos 


Um dos principais meios de escrita, o alfabeto possui diversas variações e adaptações de acordo com o tempo e o lugar. Entre os alfabetos mais conhecidos da história, estão:

Alfabeto fenício

Desenvolvidas pelos fenícios com base na escrita semita, as anotações fonéticas passaram a ser alfabética em meados do século XV a.C., dando origem ao primeiro alfabeto a ser usado em larga escala.

O alfabeto fenício é composto por 22 signos que permitem a elaboração da representação fonética de qualquer palavra. Seus símbolos específicos formavam letras que vão da direita para a esquerda.

O alfabeto fenício foi adotado por povos de outras civilizações, chegando aos cananeus e hebreus. Assim, o alfabeto fenício arcaico originou todos os alfabetos da atualidade.

Alfabeto grego

A origem do alfabeto grego, assim como a maioria dos sistemas alfabéticos atuais, vem do alfabeto fenício. Os gregos acrescentaram outros sons ao alfabeto fenício e adotaram um sistema com 24 letras entre vogais e consoantes. A partir do alfabeto grego outros alfabetos surgiram como o etrusco, o grego clássico e o latino.

Os gregos modificaram o alfabeto fenício, acrescentando as vogais e as variantes de sua língua. Outra mudança grega foi a direção da escrita. Embora no acompanhasse a direção fenícia (da direita para a esquerda), ela foi sendo alterada até chegar ao sistema atual de esquerda para a direita.

O sistema grego foi fundamental para o mundo moderno. Eles foram os pioneiros na escrita com o alfabeto e até os dias atuais o seu sistema é aplicado na Grécia e nas comunidades gregas pelo mundo. 

Pelo fato de possui valor numérico, as letras gregas foram adotadas também no sistema de numeração. Atualmente, o valor numérico do alfabeto grego é aplicado na linguagem científica e matemática.

Alfabeto latino

O alfabeto latino vem da origem do alfabeto grego. Também chamado de alfabeto romano, ele surgiu por volta do século VII a. C. Os romanos utilizaram 21 dos 26 dos caracteres etruscos. Com a expansão do Império Romano e a difusão do Cristianismo, o alfabeto latino passou a ser a principal escrita, tornando o alfabeto latino a base de todos os alfabetos da Europa Ocidental.

A influência do Império Romano fez com que diversas nações adotassem o latim para escrever sua própria língua. Houve um período em que a letra Z chegou ser desconsiderada, pois nessa época o latim não possuía nenhum som específico para o sinal gráfico.

Os germânicos e eslavos também aprovaram o alfabeto latino, embora tenha feito algumas modificações. As chamadas línguas românicas tardias passaram a usar sinais diacríticos para expressar o seus sons específicos. O idioma alemão passou a usar o trema (ü), os idiomas português e francês utilizaram a cedilha (ç) e o idioma português e espanhol adotaram o til (~).

Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/origem-do-alfabeto. Acesso em: 04 dez. 2020.

domingo, 27 de setembro de 2020

 

BULLYING NA ESCOLA: QUEM SOU EU? QUEM É O 

OUTRO? ONDE ESTÁ A DIFERENÇA?




O bullying não acontece apenas na escola, mas é nela, sem dúvida, que essa prática mais acontece. Uma pesquisa realizada no colégio Presidente Geisel, em 2019, mostra que 56% das ações de bullying acontecem na escola. Outro dado encontrado é que, na maioria das vezes, o bullying é praticado na forma de violência verbal, o que faz com que ele seja ignorado e naturalizado no espaço da escola. Muitas vezes, os/as professores/as e gestores/as escolares nem ficam sabendo das humilhações, piadas de mal gosto, apelidos e preconceitos divulgados ali. A vergonha e o medo de sofrer novas agressões faz com que muitos/as alunos/as, mesmo sofrendo, não procurem os/as adultos/as para solucionar os conflitos. Essa invisibilidade faz com que as situações de bullying caiam no anonimato, mesmo não parando de ser praticadas. Mas por que o bullying acontece? Um dos motivos para que ele aconteça tem a ver com a ideia que temos de nós mesmos e também a ideia que construímos sobre o outro. Em geral, os agressores ou praticantes do bullying acreditam numa suposta superioridade em relação à vítima. Muitas vezes, se supõe que alguma característica física, comportamental, de pertencimento a uma raça, classe ou orientação sexual justificariam tais agressões. Por trás disso, está a noção de existiria uma hierarquização da qualidade humana, que supõe que negros/as são inferiores/as aos/às brancos/as, que os/as pobres são inferiores aos/às ricos, que os/as homossexuais são inferiores aos/às heterossexuais. Tais discursos circulam na sociedade e também no ambiente escolar, de modo a produzir crenças limitantes sobre o outro. Mas quem sou eu? Por que me comporto assim diante do outro? Por que preciso inferiorizá-lo? Muitas vezes, quem tem a necessidade de agredir o outro não se julga superior a esse outro, mas sofre de uma profunda baixa autoestima, que faz com que ele/a tenha que evidenciar as fraquezas e supostos defeitos do outro, como se isso me fizesse maior do que ele/a. Ou seja, surge a necessidade de diminuir o outro, para que eu me sinta exaltado. O que muitas vezes se esquece é que eu também tenho defeitos e fraquezas. Ao praticar o bullying, isto parece ficar esquecido. E quem é o outro? Quem é esse outro que é alvo das minhas provocações e atos violentos? É alguém que é diferente de mim, sem dúvida. Contudo, o que raramente percebemos é que todos somos diferentes entre si. Não adianta ressaltar a diferença apenas de alguns e tentar imaginar que existe uma pessoa ou grupo de pessoas marcadas como diferentes. A diferença ou diversidade humana é um imperativo e exige que saibamos que, mesmo dentro de um grupo supostamente homogêneo, não há como afirmar uma suposta igualdade. Não é porque sou branco/a que sou igual aos meus colegas também brancos. Não é porque sou de classe popular que tenho as mesmas experiências e história de vida que outros/as colegas de classe popular. Não é porque sou brasileiro/a que sou igual a todos/as os/as brasileiros. Não é porque sou heterossexual que tenho os mesmos desejos que as outras pessoas heterossexuais. Onde está, então, a diferença? A diferença está no universo – não há uma estrela igual à outra, uma cor igual à outra, uma flor igual à outra, um animal igual ao outro, um ser humano igual ao outro... A diferença está em todo lugar! Negar-se a percebê-la é uma forma de ignorância. Ignorância que leva à violência. Violência essa que se faz intolerável, inadmissível. Assim, é preciso tolerar e compreender o outro, mas antes é preciso fazer um exame de consciência e perceber quem nós somos. Não há como criticar ou excluir o outro sem pensar que também podemos ser criticados e excluídos. Somos seres relacionais e tudo o que somos depende do modo como nos nomeamos a partir da visão do outro. Não há como violentar e não ser violentado. Não há como fazer sofrer e estar isento do sofrimento. Não há como conviver uns com os outros sem percebermos as nossas fragilidades. Somente assim seremos capazes de realmente respeitar o outro, nos colocarmos no lugar dele e não mais desejar provocar o sofrimento desse outro. Quem agride hoje, pode ser agredido amanhã. Uma cultura de paz na escola se constrói, portanto, em relações que se pautam pelo respeito!

 

Gabriela Meireles


Imagem disponível em: https://blog.portabilis.com.br/bullying/. Acesso em: 27 set.2020.



terça-feira, 14 de julho de 2020

EDUCAÇÃO FAMILAR E EDUCAÇÃO ESCOLAR

Panaro em Casa - A Escola Online - Escola Municipal Panaro ...Saúde na escola - Brasil Escola

Em tempos de pandemia, fica difícil não considerar a possibilidade de algumas práticas educativas formais no contexto familiar ou doméstico. Contudo, esse é também um momento oportuno para refletirmos sobre alguns motivos para diferenciarmos essas duas instâncias educativas - a família e a escola. Um primeiro ponto a destacar é que a educação familiar é diferente da educação escolar e que uma não substitui a outra. Quando pensamos na educação familiar, podemos ressaltar a importância dos pais e/ou responsáveis na condução da educação das crianças e adolescentes. Educação aqui entendida como processo de transmissão de valores éticos e morais, de princípios religiosos, de construção de um ambiente harmônico, organizado por regras e rotina. Quando pensamos na educação escolar, logo destacamos as aprendizagens formais e a transmissão de conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade. Nesse ponto, é preciso dizer que os pais sozinhos nunca darão conta da complexidade do currículo escolar (pensando aqui nos currículos oficiais brasileiros - nacionais, estaduais e municipais). É preciso também dizer que nada substitui a relação criança-criança e professor/a-crianças no contexto da escola. É nas relações sociais (e também institucionais) que as crianças aprendem a se colocar em um contexto grupal, a perceber que os/as colegas pensam diferente dela (e possivelmente também dos pais e/ou responsáveis por aquela criança) e que é de extrema importância que haja essa multiplicidade de opiniões, valores e formas de ser para que possamos nos enriquecer diante da diversidade. A escola é também espaço para aprender a dividir, a respeitar uma figura de autoridade, a realizar atividades intencionais que beneficiem o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e adolescentes. A família pode e deve sempre acompanhar os processos que ocorrem na escola, mas dificilmente conseguirão repor ou substituir as aprendizagens decorrentes dessa convivência com os outros dentro de um contexto institucional. Portanto, quando pensamos na relação escola família, precisamos reiterar que o papel dos pais não é de intervir pedagogicamente na educação formal dos filhos, visto que somente os/as professores/as sabem os conteúdos apropriados para cada faixa etária e ano escolar e somente eles/as, tendo passado por uma formação em nível superior na docência, têm capacidade para escolher os métodos e metodologias de ensino que sejam mais adequados a cada criança ou adolescente. Somente um profissional da área de educação consegue descrever em que nível de aprendizado (por exemplo, da leitura e da escrita) o/a seu/sua filho/a se encontra. Somente através dessa avaliação diagnóstica é que o/a professor/a irá propor determinadas atividades. Por conta disso, os pais, por mais bem intencionados que estejam, não têm condições de fazer esse tipo de avaliação. Além disso, é preciso considerar o fato de que algumas crianças apresentam dificuldades para aprender (por vários motivos) e somente o/a professor/a terá condições de avaliar se há ou não a necessidade de um acompanhamento especializado e a necessidade de possíveis encaminhamentos. Portanto, não há como eximir a responsabilidade dos pais e responsáveis de educar seus/suas filhos/as, mas também não há nenhuma possibilidade de que eles/as preencham ou substituam as funções de um/a professor/a.

Imagens retiradas do Google Imagens.

terça-feira, 30 de junho de 2020

BIBLIOTECA: O CORAÇÃO DA ESCOLA


Para formar bons leitores, o livro tem que ser uma presença constante na vida da criança. Por isso, no Alfaletrar, as bibliotecas das escolas são consideradas “o coração do projeto”. Elas garantem aos alunos a oportunidade de estar em contato com textos de qualidade e de autores reconhecidos. Além destes, também é importante que o acervo disponha de revistas, jornais, gibis, CDs, folhetos de gêneros diferentes, jogos, fantoches etc.
No início do projeto, nem sequer havia biblioteca nas escolas de Lagoa Santa. Por essa razão, implantá-las em todas as escolas e formar um bom acervo foi uma das primeiras ações do Alfaletrar no município. O Núcleo de Alfabetização e Letramento teve papel fundamental nesse processo, pois promoveu intensa troca de ideias, em que cada escola refletiu sobre a melhor forma de organizar sua biblioteca. As professoras fizeram painéis com bolsões para expor os livros, confeccionaram as almofadas, discutiram sobre como arranjar o espaço e decidiram quais seriam as regras de funcionamento e a política de empréstimo dos livros.
Aos poucos as bibliotecas foram se tornando um ambiente vivo e promotor de diversas atividades que contribuem para a formação de bons leitores. As professoras, juntamente com os alunos, divulgam os livros novos, desenvolvem a hora do conto, realizam sarau de poemas e jograis, fazem leituras dramatizadas etc.
No Alfaletrar é sempre um(a) professor(a) que está à frente da biblioteca. Seu perfil é o de alguém que conhece bem o acervo e gosta muito de literatura. Assim, por meio das atividades que desenvolvem, consegue levar as crianças a também amarem os livros. O(a) professor(a), envolvendo os alunos, também organiza os livros da biblioteca ou do Cantinho de Leitura por meio de etiquetas para os diferentes gêneros textuais.
Veja a seguir uma sugestão de como organizar a escola:

SUGESTÃO DE COMO ORGANIZAR OS LIVROS NA BIBLIOTECA DA ESCOLA:

Disponível em: http://alfaletrar.org.br/aprendizagem-inicial-da-escrita. Acesso em: 30 jun 2020.